O MENINO E O LADRÃO
Um
ladrão astuto, vendo-o assim, perguntou-lhe, diligentemente, a causa de sua
tristeza, dizendo-lhe:
—
Diz-me, belo rapaz, por que, com olhos lacrimejantes, choras tão
impetuosamente?
Lastimando-se,
assim respondeu o rapaz:
—
Aqui vim, com um balde de ouro, para buscar água. Mas, quando a apanhava, a corda
partiu-se, e o balde caiu dentro do poço. É por isso que, cheio de tristeza, eu
choro.
Ouvindo
tais palavras, o ladrão, astuto e ganancioso, tirou a capa e, pondo-a perto do garoto,
desceu ao poço à procura do balde.
Depois,
tendo já o ladrão chegado ao fundo do poço, o menino tomou-lhe a capa, e com
ela fugiu à floresta, onde se escondeu. O ladrão demorou-se muito procurando o
balde de ouro, mas, vendo que não podia achá-lo, e notando que perdia tampo
naquela busca infrutífera, esforçou-se por sair do poço, e começou a procurar
pela capa em todos os lugares. E, constatando que a capa não estava em lugar
algum, porque não caíra inadvertidamente ao chão, disse, cheio de tristeza e
angústia:
—
Ó deuses de todos os povos! O quão justos fostes vós em vossa sentença! Os que,
como eu — loucamente, com grande cobiça e avareza, atraídos por um engodo —,
acreditam que vão achar um balde de ouro num poço, devem ser punidos com o
infortúnio, e por justa razão.
Ninguém
deve, assim, ser tão ganancioso, e nem se deixar atrair pelas coisas alheias,
pois corre o risco de perder aquelas que lhe pertencem. Bem-aventurados os que
se acautelam das armadilhas alheias.
---
Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de
autor anônimo do século XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha, 1521).
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