O LOBO E O CABRITO
—
Ó animal louco e imprevidente! O que buscas entre os carneiros? Porventura não
sabes que, em todos os templos do mundo, vê-se o chão ensanguentado, empapado
do sangue dos aninais que, a cada dia, se matam e se sacarificam em honra dos
deuses? Rogo-te que evites morar nesse lugar, onde não podes esperar outra
coisa que não a morte. Volta, pois, ao prado, onde podes viver sem medo, longe
do perigo.
Todavia,
o cabrito disse ao lobo:
—
Rogo-te, meu senhor, que não te preocupes com nada disto. Porque, nem por tua
fealdade, nem por teu pérfido conselho, haverei de sair daqui. Malgrado haja de
temer a morte constantemente, e recear que o meu sangue seja derramado nos
altares, parece-me preferível sacrificar-me aos deuses a ser capturado e
devorado por um lobo raivoso.
Isto
significa que dos males presentes, deve-se sempre escolher o menor.
---
Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de
autor anônimo do século XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha, 1521).
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