O LOBO E A ALDEÃ
Constrito
pela fome, o lobo desceu a montanha em busca de comida para si e para a sua
família. O mais sorrateiramente que pôde, aproximou-se de uma casa, na
esperança de encontrar alguma comida. De onde estava, ouviu o choro dolente de
uma criança e a voz da mãe a dizer-lhe:
—
Se não calares essa boca, jogo-te ao lobo furioso, que há de te comer!
Acreditando
naquelas palavras, o lobo aguardou a noite inteira, esperançoso de que a mulher
lhe atirasse à devora o filho, como prometido. Mas o menino, depois de muito
chorar, acabou dormindo, tal era o seu cansaço. O lobo, então, perdeu toda a
esperança. Faminto, voltou para a montanha, onde aguardava-o a sua família.
Prontamente,
a loba percebeu que ele voltava débil e esfaimado. Disse-lhe, então:
—
O que houve contigo? Porque não trouxeste alguma caça, como de costume, mas
voltaste bem tristonho, com ar de desalento, e com a boca vazia?
—
Não te espantes se não trago presa alguma entre os dentes. Uma promessa feita
por uma mulher me deteve a noite inteira. Enquanto eu esperava que a aldeã a
cumprisse, a luz do dia me alcançou. Os aldeões, com os seus cães, perceberam a
minha presença, mas, a duras penas, e com grande esforço, consegui escapar da
ferrenha perseguição. Assim, enquanto eu buscava alimento para a nossa família,
uma mãe prometeu-me lançar o filhinho às minhas presas, mas não cumpriu com o
prometido. Portanto, por causa de tal esperança, tardei-me perigosamente.
Quem não quer ser enganado — conclui-se — não deve confiar em meras e inconstantes promessas alheias.
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Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de
autor anônimo do século XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha, 1521).
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