O ASNO EM PELE DE LEÃO
Com
desmedida presunção, pisoteava o pasto que partilhava com as ovelhas e os
cordeiros e, com semelhante empáfia, apavorava dóceis animais silvestres, como
os cervos e as lebres nas matas.
Todavia,
quando assim pomposamente desfilava no bosque, deparou-se com o seu dono — o
aldeão de quem se havia desgarrado — e que, por acaso, passava por aquelas
matas. Achando-o assim vestido com uma pele de leão, o aldeão agarrou-o pelas
longas orelhas — que haviam ficado descobertas — e, dando-lhe cruéis
vergastadas, arrojou-lhe fora a vestimenta enganosa.
—
Aos que não te conhecem, tu provocas, facilmente, pavor e espanto; mas aos que sabem
quem verdadeiramente és, já não podes apavorar: sempre foste e serás o que és:
um asno. E enverga, apenas, as roupas que o teu pai natural te legou: não
cobices as honras alheias — que não te pertencem — para que não sejas
menosprezado quando delas fores desnudado! A quem pensavas indevidamente
honrar?
---
Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de
autor anônimo do século XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha, 1521).
Nenhum comentário:
Postar um comentário