O LOBO E O GROU
Comendo o Lobo carne,
atravessou-se-lhe um osso na garganta, que o afogava. Estando nesta afronta,
pediu ao Grou que lhe valesse nela, e com seu pescoço comprido lhe tirasse do
papo o osso. Fê-lo o Grou, tirou-lhe o osso, e estando livre o Lobo, pediu-lhe
alguma parte do muito, que antes se oferecia a lhe dar. Porém o Lobo lhe
respondeu. Oh ingrato! Não me agradeces que te tivesse metida a cabeça dentro
na minha boca, e que pudera apertar os dentes e matar-te. Não me peças paga;
que obrigado me ficas, e assaz és de ingrato em não reconheceres tão
grande benefício. Calou-se o Grou, e foi muito arrependido do que fizera,
dizendo: Nunca mais por gente ruim meterei a cabeça e vida em semelhante
perigo.
MORAL DA HISTÓRIA:
Benefícios feitos a gente
perdida são perdidos, e podem contar-se por malefícios, quando puramente não se
fazem por amor de Deus, que todos os bens tem cuidado de pagar. Homem
desagradecido, quanto fazeis por ele tudo perdeis: e às vezes com palavras vos carrega,
mostrando que vós sois o devedor, como este nosso Lobo fazia.
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Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)
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