domingo, 2 de janeiro de 2022

O lobo e o cordeiro (Fábula de Esopo), de Manuel Mendes da Vidigueira

 

O LOBO E O CORDEIRO

Estava bebendo um Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte debaixo chegou um Cordeiro também a beber. Olhou-o o Lobo de mau rosto, e disse reganhando os dentes: Porque tiveste tanta ousadia de me turvar a água, onde estou bebendo? Respondeu o Cordeiro com humildade: A água corre para mim, por tanto não posso eu torvá-la. Torna o Lobo mais colérico a dizer: Por isso me hás de praguejar? Seis meses haverá que me fez outro tanto teu Pai. Respondeu o Cordeiro: Nesse tempo Senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa. Sim tens, replicou o Lobo, que todo o pasto de meu campo estragaste. Mal pode ser isso, disse o Cordeiro, porque ainda não tenho dentes. O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele, e logo o degolou e o comeu.

MORAL DA HISTÓRIA:
Claramente mostra esta Fábula que nenhuma justiça, nem razões valem ao inocente, para o livrarem das mãos do inimigo poderoso e desalmado. Poucas Cidades ou Vilas há, onde não haja estes Lobos, que sem causa, nem razão, matam ao pobre, e lhe chupam o sangue, só por ódio ou má inclinação.


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Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)


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