O LOBO E O
CORDEIRO
Estava bebendo um
Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte debaixo chegou um Cordeiro
também a beber. Olhou-o o Lobo de mau rosto, e disse reganhando os dentes:
Porque tiveste tanta ousadia de me turvar a água, onde estou bebendo? Respondeu
o Cordeiro com humildade: A água corre para mim, por tanto não posso eu torvá-la.
Torna o Lobo mais colérico a dizer: Por isso me hás de praguejar? Seis meses
haverá que me fez outro tanto teu Pai. Respondeu o Cordeiro: Nesse tempo
Senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa. Sim tens, replicou o Lobo,
que todo o pasto de meu campo estragaste. Mal pode ser isso, disse o Cordeiro,
porque ainda não tenho dentes. O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele, e
logo o degolou e o comeu.
MORAL DA HISTÓRIA:
Claramente mostra esta Fábula que nenhuma justiça, nem razões valem ao inocente, para o livrarem das mãos do inimigo poderoso e desalmado. Poucas Cidades ou Vilas há, onde não haja estes Lobos, que sem causa, nem razão, matam ao pobre, e lhe chupam o sangue, só por ódio ou má inclinação.
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Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)
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