terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O lobo e o cão (Fábula de Esopo), de Manuel Mendes da Vidigueira

 


O LOBO E O CÃO 

Encontrando-se um Lobo e um Cão em um caminho, disse o Lobo: Inveja tenho, companheiro, de te ver tão gordo, com o pescoço grosso, e cabelo luzido: eu sempre ando magro e arrepiado. Respondeu o Cão: Se tu fizeres o que eu faço, também engordarás. Estou em uma casa, onde me querem muito, dão-me de comer, tratam-me bem; e eu tenho cuidado só de ladrar quando sinto ladrões de noite. Por isso, se queres, vem comigo, terás outro tanto. Aceitou o Lobo, e começaram a ir. Mas no caminho disse o Lobo: De que é isso, companheiro, que te vejo o pescoço esfolado? Respondeu o Cão: Porque não morda de dia aos que entram em casa, estou preso com uma cadeia, e de noite me soltam até pela manhã, que tornam a prender-me. Não quero tua fartura, respondeu o Lobo: A troco de não ser cativo, antes quero trabalhar, e jejuar livre. E dizendo isto se foi. 

MORAL DA HISTÓRIA:
Não há prata, nem ouro, por que deva vender-se a liberdade, e quem a estima no que ela merece, faz o que fez este Lobo, que escolhe antes trabalhos e fome que perdê-la: mas comedores negligentes e apoucados não estimam ser livres, com tanto que comam o pão ociosos, e os tais são significados nesta Fábula pelo Cão.


---
Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)

Nenhum comentário:

Postar um comentário