O HOMEM E A DONINHA
Um Homem que caçava Rato,
prendeu na armadilha uma Doninha. Ela vendo-se era seu poder, lhe disse que
a soltasse, e alegou razões, dizendo que ela nenhum mal lhe fazia, antes lhe
alimpava a casa de ratos e bichos, e sempre por lhe fazer bem os andava
matando. Respondeu o homem: Se tu por fazer bem o fizeras, devia-te eu
agradecimento; mas como o fazes pelo comer, não te devo nada, antes te quero
matar, que se eles te faltarem, comer-me-ás o meu, pior do que o fazem os
mesmos ratos.
MORAL DA HISTÓRIA:
Do que os homens fazem por
seu respeito nenhum agradecimento se lhes deve; que a boa obra há de ser
voluntaria e não acaso, para que obrigue a quem a recebe. Esta Doninha é
como muitos homens que até as más obras que fazem, querem vender com boas
palavras e que se lhes fiquem devendo. Porém a intenção dá à obra os quilates;
quem me deu uma lançada por me matar, e me abriu o apostema, que me matava, não
foi amigo, posto que me causou saúde. Porém devo-a só a Deus, que por mau do
inimigo ma quis dar.
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Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)
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