Miramil III, grande e poderoso monarca, tinha
três ministros que se gabavam de saber tudo quanto havia, quando não passavam
de homens vulgares.
Uma vez, saindo a passeio com eles, encontrou
um velho, que lhes tirou respeitosamente o chapéu.
— Quanta neve vai pela serra! disse o rei.
— Já é tempo dela, real senhor, respondeu o
velho roceiro.
— Quantas vezes já queimaste a casa?
— Duas, real senhor.
— Quantas vezes tens de queimá-la?
— Três, real senhor.
— Se eu te mandar três patos, serás capaz de
mos depenar?
— Quantos mandardes, real senhor.
Saindo dali o soberano ordenou que os três
ministros respondessem o que ele havia conversado com o velho, sob pena de
serem enforcados.
Os sabichões pediram uma semana de espera.
Leram quantos livros encontraram, mas não puderam entender o que queria dizer o
rei.
Resolveram, então, ir consultar o velhote às
escondidas.
O velho comprometeu-se a responder com a
condição de lhe darem eles a roupa que traziam consigo.
Os ministros aceitaram. Despiram-se.
— Quanta neve vai pela serra, quer dizer que
já tenho a cabeça muito branca, e por isso respondi que já era tempo dela, pois
já era bem velho. Queimar a casa, é casar uma filha, porquanto quem casa uma
filha, gasta tanto, como se tivesse tido um incêndio. E os três patos para
depenar, são os senhores.
Quando o ancião acabou de falar,
apareceu o rei, que se achava escondido.
Os três ministros ficaram com medo, mas o
monarca sossegou-os. Não os mandou matar, condenou-os, porém, a dar bons dotes
às três filhas do velho que ainda estavam por casar.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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