De uma vez estavam os frades comendo no
refeitório, e coube a um deles um peixe muito pequenino; este então reparou e
viu que no prato do guardião estava um muito grande, e que o comia à boca
cheia. O frade era ladino, e para se vingar do jejum a que o obrigavam, abaixou
a cabeça sobre o seu peixinho que tinha no prato, e começou a momear, como quem
estava a conversar em segredo. O guardião reparou nisto, e pergunta de lá da
cabeceira da mesa:
— Oh irmão frei fulano, então o que é isso
que está fazendo?
— Reverendo padre mestre, estava perguntando a este peixinho se de alguma vez teria encontrado meu pai, que morreu afogado no mar; mas ele respondeu-me que como é muito pequenino não soube disso, e que quem o poderá saber é o peixe que está no prato de vossa reverência, que é muito grande, e pode bem dar fé de tudo.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Ilha de São Miguel)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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