Havia numa terra dois corcundas que se
conheciam e eram amigos; de uma vez um deles perdeu-se numa estrada e foi ter
ao meio de uma floresta onde umas bruxas estavam fazendo as suas danças, e
diziam:
— Entre quintas e sextas e sábados.
O corcunda foi-se aproximando, e viu ali
muito de comer, e começou também a dizer:
— Entre quintas e sextas e sábados.
As feiticeiras vieram ter com o corcunda e
deram-lhe muito de comer e fizeram-no dançar; como estava para dar meia-noite,
disseram:
— O que se há de fazer a este homem, quando
nos formos embora?
— Dê-se-lhe muito dinheiro.
Outras disseram:
— Tire-se-lhe a corcunda.
Ele apanhou as duas coisas, e foi-se embora;
quando chegou à sua terra o outro corcunda perguntou-lhe quem é que o tinha
endireitado. O amigo contou-lhe tudo e disse-lhe onde era a floresta; o outro
corcunda avistou as mesmas luzes e viu a mesma dança das bruxas; e assim que
ouviu elas estarem cantando:
— "Entre quintas e sextas e
sábados", começou a dizer as mesmas palavras, e acrescentou:
— E os domingos, se for necessário.
As bruxas desesperadas por lhe falarem no
domingo, foram ter com ele, deram-lhe muitos repelões e disseram:
— O que havemos de fazer a este homem?
— Ponha-se a corcunda que o outro aqui
deixou.
E assim ele se foi embora com uma giba atrás
e outra adiante.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Porto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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