segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O rio (Fábula), de Khalil Gibran

 

O RIO 

No vale de Kadisha, onde corre o poderoso rio, dois pequenos riachos encontraram-se e falaram um com o outro.

Um ribeiro disse:

— Como vieste, meu amigo? Como foi o teu caminho"?

E o outro respondeu:

— O meu caminho foi muito difícil. A roda do moinho quebrou, e o mestre agricultor, que costumava conduzir-me do meu leito às suas plantas, faleceu. Lutei, ao Sol, com a imundície acumulada pelo desleixo. Mas, e quanto a ti, como foi o teu percurso, meu irmão?

E o outro ribeiro respondeu:

O meu caminho foi diferente. Desci as colinas entre flores perfumadas e salgueiros gentis; homens e mulheres bebiam de minhas águas com copos de prata, e as criancinhas chapinhavam, com os seus pés rosados, sobre as minhas margens, e havia doces canções e risos por toda parte. Que pena que o teu caminho não tenha sido tão feliz...

Naquele momento, o rio disse em voz alta:

— Entrai, entrai! E sigamos todos para o mar. Entrai, entrai! Não faleis mais. Estejais comigo agora. Vamos juntos para o mar. Entrai, entrai, porque, em mim, esquecereis de vossas andanças, tristes ou alegres. Entrai, entrai! E vós e eu esqueceremos todos os nossos caminhos quando chegarmos ao coração da nossa mãe, o mar.

 

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Tradução de Paulo Soriano.

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