Havia um rei, que tinha por costume andar
escutando pelas portas, pelo que lhe chamavam o Rei-Escuta. Uma noite ele foi escutar a uma porta e ouviu dizer:
— O que eu queria era casar com o padeiro do
rei, para comer sempre pão fresco.
Outra voz dizia:
— Não sejas tola; eu o que queria era casar
com o cozinheiro do rei, para comer guisados muito afamados.
E outra voz disse:
— Pois o que eu queria era casar com o
Rei-Escuta.
O rei ouviu tudo aquilo e foi-se embora. No
dia seguinte mandou chamar as raparigas daquela casa, e perguntou à mais velha:
— Então, queres casar com o meu padeiro?
Respondeu que sim. Chamou a segunda, e fez a
mesma pergunta a respeito do cozinheiro. Ela disse que sim. Chamou por fim a
mais moça:
— Então queres casar comigo?
— Sim senhor, disse isso!
O rei mandou casar as duas raparigas com o padeiro e o cozinheiro, e a mais moça casou com ele. As irmãs ficaram logo com muita inveja, e meteram enredos ao rei, que a ia mandar deitar ao mar; mas os criados descobriram-lhe tudo, e ele ficou vivendo muito feliz com a sua mulher e nunca mais quis saber das cunhadas, que foram para o meio da rua.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Ilha de São Miguel — Açores)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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