Era uma vez um casal de lenhadores muito,
muito pobres, com sete filhos pequenos. Um deles, o caçula, era magro e fraco,
mas esperto e inteligente; era conhecido como Polegar, por ser muito pequeno ao
nascer.
Naquele ano difícil, faltava tudo,
praticamente não havia o que comer.
Os dois lenhadores, desesperados com tanta
miséria e tantas bocas para alimentar, encontraram uma triste solução: iriam se
livrar dos sete filhos esfomeados.
Enquanto os filhos dormiam, pai e mãe
planejaram como agiriam para abandonar as crianças.
— Vamos levar as crianças para a floresta —
disse o lenhador. — Lá, enquanto juntam lenha, nós as abandonaremos e fugiremos
sem que percebam.
Quando o pai pronunciou a última palavra,
seus olhos e os de sua esposa estavam cheios de lágrimas.
— Coitadinhos dos meus filhos — disse a mãe,
soluçando. — Ficarão sozinhos, sentindo frio, fome e medo das feras do mato...
— Prefere, então, que morram de fome aqui
mesmo conosco, sob nossas vistas? — perguntou o pai, também chorando.
Não havia solução. As crianças morreriam, em
casa ou na floresta. Então, era melhor que fosse longe, para os pais sofrerem
menos. Combinaram o que fariam no dia seguinte e foram dormir.
Pela manhã, o casal chamou os filhos e foram
todos para a floresta. Enquanto as crianças estavam ocupadas em apanhar
bastante lenha, os pais foram se afastando, afastando, até ficarem bem longe.
Quando os sete irmãos perceberam que estavam
sozinhos, os seis maiores começaram a chorar. Mas Polegar não desanimou.
Encorajou os irmãos propondo que, juntos, procurassem o caminho de casa.
Começaram a caminhar pela floresta mas,
infelizmente, quanto mais caminhavam, parecia que estavam mais perdidos e não
sabiam que rumo seguir.
Chegou a noite, começou a chover e a fazer
muito frio; ao longe, os lobos uivavam. Os seis pequenos estavam desesperados,
amedrontados e desanimados.
Mas Polegar, sempre muito ativo, subiu em uma
grande árvore e, lá do alto, viu uma luz brilhar ao longe. Imaginou que seria a
luz de uma casa.
Sem hesitar, o garoto desceu da árvore e,
guiando os irmãos, começou a andar na direção daquela luzinha distante.
Andaram e andaram, até chegar a uma casa
imensa e assustadora.
Polegarzinho bateu à porta e uma mulher veio
abrir.
— Quem são vocês, crianças, e o que querem?
— Estamos perdidos na mata. Tenha pena de
nós, minha senhora. Estamos com fome e precisamos de um lugar para dormir.
Poderia nos abrigar?
— Coitados! Vocês estão sem sorte. Esta é a
casa de meu marido, o Gigante, verdadeiro devorador de criancinhas.
Polegar logo respondeu, sem demonstrar medo:
— Se ficarmos na mata, com certeza seremos
devorados pelos lobos. Então, já que estamos aqui, preferimos ser devorados
pelo Gigante. Aliás, quem sabe ele não se comoverá e nos deixará viver? Já com
os lobos, não haverá conversa alguma.
A mulher do Gigante tinha coração mole e se
deixou convencer: permitiu que os sete irmãos entrassem. Mal tinham acabado de
entrar, ouviram fortes golpes na porta: era o Gigante que regressava!
A mulher escondeu as crianças embaixo do
armário e correu para abrir a porta.
O Gigante entrou. Era um ser enorme, de
aspecto horrível. Logo que passou pela porta, começou a farejar de um lado e de
outro, desconfiado, cheirando com prazer e apetite:
— Cozida ou ensopada. Aqui tem cheiro de
deliciosa criançada!
Dizia isso e lambia os beiços.
— Imagine, nada disso! É o cheiro da janta —
disse a esposa, tremendo de pavor.
Mas o Gigante não se deixava enganar, pois
conhecia bem demais o cheiro da carne humana.
— Assadinhas ou fritinhas. Aqui tem o cheiro
de criancinhas!
E lambia os beiços.
Guiando-se pelo faro, foi em direção ao
armário e, com as enormes mãos, arrancou de lá os sete irmãos, um por um, mais
mortos do que vivos pelo medo.
— Muito bem! Aqui tem uma ótima refeição para
amanhã.
E começou a afiar o facão.
Já tinha agarrado o pescoço do irmão mais
velho quando a mulher falou:
— Por que você quer matá-los nesta noite? A
janta já está pronta!
— Tem razão, minha velha — resmungou o
Gigante. É melhor economizar, portanto deixá-los-ei para amanhã, é melhor que
descansem um pouco.
A mulher do Gigante suspirou aliviada. Levou
as crianças para dormir no quarto em que estavam suas sete filhas, sete meninas
muito feias e cruéis, como o pai.
Assim, dormiriam em uma larga cama as sete
garotinhas. E em uma cama igual, ao lado, os sete irmãozinhos. Polegar reparou
que as filhas do Gigante usavam suas coroas de ouro mesmo enquanto dormiam.
Receando que o malvado mudasse de ideia e
decidisse matá-los naquela mesma noite, o pequeno pegou seu gorrinho e os de
seus irmãos e os colocou com cuidado na cabeça das garotas adormecidas, após
tirar as coroazinhas de ouro, que colocou na sua cabeça e na dos queridos
irmãos. Estava feita a troca.
A certa altura o Gigante acordou, arrependido
por ter adiado a matança. Agarrou o facão e foi ao quarto das filhas, no
escuro.
Tateando, aproximou-se da cama em que dormiam
os sete irmãos. Polegar sentiu a enorme mão do Gigante tocar em seus cabelos e
na coroazinha e, em seguida, o horroroso exclamou:
— Meu Deus! O que estava para fazer? Por
pouco quase degolei minhas próprias filhotas!
Aproximou-se da outra cama, estendeu a mão,
sentiu os gorrinhos de lã rústica e riu.
E, sem dó, cortou de uma vez só as sete
gargantas. Depois voltou para a cama, para continuando o sono interrompido.
Bastaram alguns minutos, e já estava roncando forte.
Com muito cuidado, o pequeno Polegar acordou
os irmãos e contou-lhes o que acontecera. Falou da troca dos gorros com as
coroas para enganar o Gigante, e concluiu:
— Devemos fugir imediatamente, antes que seja
tarde! Silenciosamente, os coitadinhos saíram daquela casa e foram para a
floresta. Andaram a noite toda, sem saber bem para onde ir. Caminhavam
rapidamente, para escapar da fúria do terrível Gigante.
Na manhã seguinte o Gigante acordou e, antes
de mais nada, foi pegar suas vítimas para cozinhá-las.
Imaginem só como ficou, ao perceber que havia
degolado suas amadas filhinhas e que os sete guris tinham desaparecido!
Cego de raiva, calçou suas botas mágicas, que
a cada passo alcançavam sete léguas, e partiu para a perseguição. Dali a pouco
já estava bem próximo dos fugitivos.
Polegarzinho, sempre alerta, viu que ele
estava chegando e, sem perder a calma, mandou os irmãos se esconderem em uma
caverna ali pertinho.
E lá vinha o Gigante, cada vez mais perto dos
indefesos meninos.
Andara muito, e já começava a se cansar.
Precisou, então, parar e resolveu dar uma cochiladinha. E sabem onde? Bem na
frente da caverna em que estavam escondidos os irmãos.
Polegar pensou rápido e, aproveitando o sono
do inimigo, mandou os outros seis fugirem. Depois, aproximou-se do Gigante e,
com muito cuidado para não acordar o guloso, descalçou-lhe as botas mágicas.
Eram imensos, aqueles calçados do Gigante, mas
por serem mágicos logo se ajustaram aos pés pequenininhos do novo dono.
— Agora sim! — disse decidido.— Andarei pelo
mundo até encontrar um modo de melhorar nossas vidas.
Partiu, calçado com as botas que, a cada
passo, percorriam sete léguas. Andou muito, muito mesmo, mais que o próprio
Gigante. Após algumas horas, chegou a um reino distante, que estava em guerra.
Logo soube que o rei dali recompensaria com
uma fortuna a pessoa que lhe trouxesse qualquer informação sobre as tropas e as
batalhas. Esperto como era, Polegar foi para a região do combate, auxiliado
pelas botas velozes.
Quando retornou, levou excelentes informações
para o rei que, muito satisfeito, pagou-lhe o combinado. E ainda lhe deu mais
algumas centenas de moedas.
No dia seguinte, Polegarzinho, calçou de novo
as botas mágicas e, em um piscar de olhos, alcançou a cabana dos pais, onde foi
acolhido com enorme alegria por todos, inclusive pelos seus irmãos, que tinham
conseguido voltar.
Assim, graças ao pequeno e inteligente Polegar, todos viveram felizes desde aquele dia, com muita fartura.
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Fonte:
"Contos tradicionais, fábulas,
lendas e mitos": Ministério da Educação - Fundescola - Projeto Nordeste - Secretaria
de Ensino Fundamental. Brasília, 2000 - Volume 2. (A imagem que acompanha o texto, não se inclui
na referida obra).
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