A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal
para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido no meio da folhagem, perto do
rio que contornava o velho castelo. Mais adiante estendiam-se o bosque e um
lindo jardim florido.
Naquele lugar sossegado, a pata agora aquecia pacientemente seus ovos. Por fim, após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhos amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho.
Porém um dos ovos ainda não se abrira; era um
ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente. Impaciente, deu
umas bicadas no ovão e ele começou a se romper.
No entanto, em vez de um patinho amarelinho
saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho.
Para ter certeza de que o recém-nascido era
um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a
mergulhar junto com os outros.
Quando viu que ele nadava com naturalidade e
satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio.
Tranquilizada, levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que
viviam nos jardins do castelo.
Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era
realmente bonita. Exceto um. O horroroso e desajeitado das penas cinzentas!
— É grande e sem graça! — falou o peru.
— Tem um ar abobalhado — comentaram as
galinhas. O porquinho nada disse, mas grunhiu com ar de desaprovação.
Nos dias que se seguiram, as coisas pioraram.
Todos os bichos, inclusive os patinhos, perseguiam a criaturinha feia. A pata,
que no princípio defendia aquela sua estranha cria, agora também sentia
vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.
O pobre patinho crescia só, malcuidado e
desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o
perseguiam com ar ameaçador e até a empregada, que diariamente levava comida
aos bichos, só pensava em enxotá-lo.
Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu.
Queria ficar longe de todos que o perseguiam.
Caminhou, caminhou e chegou perto de um
grande brejo, onde viviam alguns marrecos. Foi recebido com indiferença:
ninguém ligou para ele. Mas não foi maltratado nem ridicularizado; para ele,
que até agora só sofrera, isso já era o suficiente.
Infelizmente, a fase tranquila não durou
muito. Numa certa madrugada, a quietude do brejo foi interrompida por um
tumulto e vários disparos: tinham chegado os caçadores!
Muitos marrequinhos perderam a vida. Por um
milagre, o patinho feio conseguiu se salvar, escondendo-se no meio da mata.
Depois disso, o brejo já não oferecia
segurança; por isso, assim que cessaram os disparos, o patinho fugiu de lá.
Novamente caminhou, caminhou, procurando um
lugar onde não sofresse.
Ao entardecer chegou a uma cabana.
A porta estava entreaberta, e ele conseguiu
entrar sem ser notado. Lá dentro, cansado e tremendo de frio, se encolheu num
cantinho e logo dormiu.
Na cabana morava uma velha, em companhia de
um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias
botava o seu ovinho. Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho
dormindo no canto, ficou toda contente.
— Talvez seja uma patinha. Se for, cedo ou
tarde botará ovos, e eu poderei preparar cremes, pudins e tortas, pois terei
mais ovos. Estou com muita sorte!
Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A
velha começou a perder a paciência. A galinha e o gato, que desde o começo não
viam com bons olhos o recém-chegado, foram ficando agressivos e briguentos.
Mais uma vez, o coitadinho preferiu deixar a
segurança da cabana e se aventurar pelo mundo. Caminhou, caminhou e achou um
lugar tranquilo perto de uma lagoa, onde parou.
Enquanto durou a boa estação, o verão, as
coisas não foram muito mal. O patinho passava boa parte do tempo dentro da água
e lá mesmo encontrava alimento suficiente.
Mas chegou o outono. As folhas começaram a
cair, bailando no ar e pousando no chão, formando um grande tapete amarelo. O
céu se cobriu de nuvens ameaçadoras e o vento esfriava cada vez mais. Sozinho,
triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se
aproximava.
Num final de tarde, viu surgir entre os
arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as
asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, emigrando na
direção de regiões quentes. Lançando estranhos sons, bateram as asas e
levantaram voo, bem alto.
O patinho ficou encantado, olhando a revoada,
até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se
tivesse perdido amigos muito queridos.
Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e
nadou durante longo tempo. Não conseguia tirar o pensamento daquelas
maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes. Foi se sentindo mais feio, mais
sozinho e mais infeliz do que nunca.
Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi
muito rigoroso. O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a
água não congelasse em volta de seu corpo, criando uma armadilha mortal. Mas
era uma luta contínua e sem esperança. Um dia, exausto, permaneceu imóvel por
tempo suficiente para ficar com as patas presas no gelo.
— Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim
todo meu sofrimento.
Fechou os olhos, e o último pensamento que
teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que
passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio. Quebrou o
gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa.
Lá o patinho foi alimentado e aquecido,
recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do
camponês se animaram:
— Vamos fazê-lo voar!
— Vamos escondê-lo em algum lugar!
E seguravam o patinho, apertavam-no,
esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a
ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga
atrapalhada!
Caiu de cabeça num balde cheio de leite e,
esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e
o pobre patinho se assustou ainda mais.
Acabou se enfiando no balde da manteiga,
engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha,
levantando uma poeira sem fim.
A cozinha parecia um campo de batalha. Fora
de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As
crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito.
Meio cego pela farinha, molhado de leite e
engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte
conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das
crianças e da fúria da mulher.
Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve,
ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as
forças.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num
lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.
Finalmente, a primavera derrotou o inverno.
Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um
inexplicável e incontrolável desejo de voar. Abriu as asas, que tinham ficado
grandes e robustas, e pairou no ar.
Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou
um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram
três aves brancas.
O patinho reconheceu as lindas aves que já
vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um
grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas
criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não
importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por
todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o
pequeno lago e pousou tranquilamente na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse,
resignado, o infeliz.
E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao
fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido
deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de
outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e
sinuoso. Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três
cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que num tempo distante tinha sido um
patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que
se perguntava se não era um sonho! Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em
companhia de outros, com o coração cheio de felicidade.
Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos,
para dar comida aos cisnes.
O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de
todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram
os pais.
E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo.
Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa.
Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado
envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrerá muito, antes
de alcançar a sonhada felicidade.
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Fonte:
"Contos tradicionais, fábulas,
lendas e mitos": Ministério da Educação -
Fundescola - Projeto Nordeste -
Secretaria de Ensino Fundamental. Brasília, 2000 - Volume 2. (A imagem
que acompanha o texto, não se inclui na referida obra).
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