Sebastião nascera de pais opulentos. Desde a
mais tenra infância vivia no meio de grande esplendor, só vestindo seda,
gorgorão, veludo, rendas finas; deitava-se em berços riquíssimos e luxuosos;
tinha à sua disposição toda a sorte de brinquedos. No entanto, a natureza fê-lo
cretino, pateta, tatibitate.
Aos oito anos começou a frequentar bons
colégios, e a aprender com professores célebres. Contudo, nunca perdia o ar de
tolo que tinha desde criança.
O Sr. Leocádio, seu pai, resolveu um dia mandá-lo
viajar, para ver se ele assim conseguia melhorar.
Uma manhã Sebastião saiu com bastante
dinheiro nas algibeiras, e começou a correr terras.
Depois de viajar algum tempo, foi ter a uma
cidade onde estavam fazendo leilão de um pássaro que todo o mundo porfiava para
ver se o arrematava.
Indagando Sebastião porque motivo naquela
terra um passarinho custava tão caro, disseram-lhe que todo o mundo desejava
possuir aquele, porque, quando ele cantava, todos que o ouviam adormeciam no
mesmo instante.
Em vista disso o moço lançou elevada quantia
e ficou com o pássaro.
Prosseguindo na viagem foi ter a outra
cidade, onde se estava vendendo um besouro que já estava por elevadíssimo
preço.
Sebastião, aproximou-se de um dos homens que
estavam no leilão e perguntou:
— Qual é a preciosidade desse besouro para se
pedir tão caro por ele?!...
— É que ele invisivelmente faz tudo quanto a
gente mandar, e é capaz de arrombar uma porta por mais forte que seja.
O moço arrematou o besouro e seguiu adiante.
Chegando a outro país, viu outro leilão, onde
toda a gente oferecia grandes somas para ver se arrematava um ratinho.
Inquirindo da vantagem de semelhante animal,
disseram-lhe que aquele rato tinha a particularidade de fazer tudo o que se lhe
mandava, e, além disso, era capaz de furar paredes sobre paredes, sem ser
pressentido.
Achando que esta terceira preciosidade
poderia convir-lhe mais tarde o rapaz arrematou o ratinho e levou-o consigo.
Ao cabo de muitas semanas de jornada chegou
por fim a um reino, onde viu imensa multidão fazendo caretas em frente à janela
onde estava a princesa Carlota, filha do rei.
Perguntando o que significava aquele povo
parado a fazer gatimonhas, responderam-lhe que intentavam ver se conseguiam
fazer a princesa rir; e explicaram-lhe que ela, desde que nascera, nunca se
rira; e que se casaria com ela aquele que o conseguisse, segundo promessa do
rei.
Sem se importar com aquela gente, Sebastião
dirigiu-se para baixo das árvores, que ficavam em frente ao palácio, apeou-se
do cavalo, e pendurou a gaiola do pássaro num galho.
Ia sentar-se, para descansar, quando se
dirigiu para os animais, dizendo:
— Agora, mestre rato, vá buscar água para o
cavalo, e tu, besouro, traze capim.
Os dois bichinhos foram fazer o que lhes
mandava seu amo. Assim que a princesa viu o besouro trazendo capim para o
cavalo, desandou em gostosa gargalhada.
As pessoas que se achavam debaixo da janela,
começaram a dizer:
— Fui eu quem fez a princesa rir.
— Fui eu, dizia outro.
E cada qual se julgava ser o único causador
de tão grande acontecimento, esperando em vista disso casar-se com a
interessante Carlota, e vir a reinar por morte do velho monarca.
O rei, admirado, e ao mesmo tempo para não
ter dúvidas, perguntou à filha quem tinha sido o autor daquele assombro.
— Foi aquele homem, disse a princesinha, que
está sentado embaixo da árvore, com uma gaiola e outros bichos mais.
Sua majestade imediatamente ordenou que
Sebastião viesse à sua presença e comunicou-lhe que tinha de casar com a
princesa.
O moço ficou espantado, por não esperar por
aquilo, e como sabia que a vontade do rei havia de ser cumprida, teve de se
casar.
Na noite do casamento mostrou-se ele muito
acanhado. A princesa desconfiando ser pouco caso que o rapaz lhe mostrava, no
dia seguinte foi dizer ao rei que estava enganada que não fora aquele, e sim
outro, o homem que a fizera rir.
Anulou-se o casamento com Sebastião, e fez-se
com outro.
Na noite do casamento, o moço que tinha
voltado para debaixo da árvore, calculando a hora em que os noivos deviam ir
para o quarto, falou para o passarinho:
— Canta, rouxinol!...
O pássaro abriu o bico e todos no
palácio ferveram no sono.
O rapaz dirigiu-se ao besouro:
— Agora, entra tu no quarto dos noivos,
desarruma tudo, e faze lá dentro uma mixórdia.
O besouro fez a sua obrigação melhor do que
se pode imaginar.
Ao outro dia, quando a princesa viu aquela
desordem, ficou muito contrariada, e foi-se queixar ao rei que aquele não era o
homem que ela supunha, e que queria desmanchar o casamento.
O rei ficou aborrecido, e disse-lhe que
esperasse mais alguns dias para ver.
Na noite seguinte, depois de todos novamente
dormirem com o canto do pássaro mavioso, Sebastião, mandou o rato desmanchar
tudo quanto houvesse no quarto da princesa.
O rato ainda melhor que o besouro, pôs tudo
numa desordem impossível.
Carlota, a princesa, ao acordar, vendo tudo
aquilo foi dizer ao pai que não havia mais dúvida, que o seu primeiro marido
era o verdadeiro.
Sebastião foi chamado, e ficaram os dois
casados, tornando-se ele um moço desembaraçado, bem falante, conversador,
espirituoso e inteligente. Desde esse dia, ambos viveram felicíssimos, e nunca
mais se queixou a formosa princesa do pouco caso que lhe ligava seu marido.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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