O JABUTI E A
ANTA DO MATO
Gente boa é jabuti, não é gente má. Estava debaixo do taperebá
ajuntando sua comida. A anta do Mato chegou aí, e disse-lhe:
— Retire-se daqui, jabuti; retire-se daqui.
jabuti respondeu a ela:
— Eu daqui não me retiro, porque eu estou debaixo da árvore da
fruta de minua.
— Retira-te, jabuti, senão eu calco-te.
— Calca... para tu veres se só tu és macho.
anta, Jurupari, (espírito do mal) calcou o coitado jabuti; a anta
foi-se embora.
O jabuti disse assim:
— Deixa estar, Jurupari! quando vier o tempo da chuva, eu saio,
vou-te no encalço, até onde te encontrar; então receberás o troco.
Veio o tempo da chuva, para o jabuti sair, e foi-se embora atrás
do grande Jurupari. Encontrou-se com o rasto da anta. jabuti perguntou-lhe:
— Quanto tempo ha que teu senhor te deixou?
O rasto respondeu:
—Já me deixou ha muito.
O jabuti saiu ali depois de uma lua; encontrou-se com outro rasto.
O jabuti perguntou:
— Teu senhor ainda está longe?
— O rasto respondeu:
— Quando tu andares dois dias te encontrarás com ele.
— Estou aborrecido de procurar; ela foi de vez.
O rasto perguntou:
— Por que razão a procuras tanto agora?
jabuti respondeu:
— Para nada. Eu quero conversar com ela.
O rasto falou:
— Então tu vás ao rio pequeno; lá acharás meu pai grande.
O jabuti assim falou:
— Então eu ainda vou.
Ele chega ao rio pequeno; perguntou assim:
— Rio, que é do teu senhor?
Rio respondeu:
— Não sei.
O jabuti falou ao rio:
— Por que razão assim me falas tão bem?
O rio respondeu:
— Eu falo assim bem, porque eu sei o que meu pai fez a você.
O jabuti falou:
— Deixe estar; eu hei de a achar. Então agora, rio, vou-me do pé
de você; quando o avistares, eu estarei com o cadáver de teu pai.
Rio respondeu:
— Não bulas com meu pai. Deixa-o dormir.
O jabuti faltou :
— Agora, com certeza alegro-me bastante; rio, vou-me embora.
Rio respondeu:
— Ah, jabuti, você, pôde ser quereres te enterrar segunda vez.
O jabuti falou :
— Não estou no mundo para fazer de pedra; agora eu vou ver se ha
mais valente do que eu; adeus, rio, vou-me.
O jabuti foi-se embora; na margem do pequeno rio encontrou a anta.
O jabuti faltou-lhe assim:
— Eu encontrei-te ou não? Agora nos veremos. Segundo dizem eu sou
macho.
Pulou para diante da anta, sobre os escrotos da anta. Então falou:
— O fogo, dizem, queima tudo.
O jabuti pulou com valentia sobre os escrotos da anta.
A anta falou assim:
— Pelo bom Tupã, jabuti, deixa meu escroto.
— Eu não deixo, porque eu quero ver a tua valentia.
A anta falou:
— Então, estou desfalecendo.
A anta levantou-se, correu para o pequeno rio; no fim de dois dias
a anta morreu.
O jabuti então falou:
— Eu matei ou não a você? Agora eu vou procurar meus parentes para
o virem comer.
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Origem: Brasil
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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