Gustavo era um simples lavrador, mal sabendo
ler e escrever.
Desejando, porém, ter um doutor na família,
mandou Lucas, seu filho, para S. Paulo estudar Direito.
O rapaz, porém, meteu-se na pândega, gastou todo o dinheiro que o velho lhe enviava, com grandes sacrifícios, e, ao cabo de cinco anos, sabia tanto quanto ali chegara.
Forçoso foi no fim deste tempo, voltar para a
roça.
Aí chegando, quis aparentar que era muito
instruído, e vendo que os cães latiam, não o conhecendo, bradou-lhes:
— Ó
canes de mi patri, non conhecetis vostrum amum?
O pai, ouvindo aquilo, ficou cheio de alegria
e disse para a mulher:
— Ó Joana! que bem empregado foi o nosso
dinheiro. Olha que o doutor até fala latim com os cachorros!
***
O lavrador nessa ocasião estava a braços com
uma demanda, e mandou que o filho fosse advogá-la.
Vendo que os juízes, escrivães, e mais gente
do foro, eram tão lorpas como ele, o rapaz apresentou-se sem receio, impando
vaidade, de chapéu à cabeça, falando alto:
— Ed nabis in saqui! Quid espigoide! Ego mettidum cum
ladrones e burrorum. Pagavit cum lingue de pau!
Ouvindo aquele arrazoado os demandistas
acharam mais razoável desistir do processo, mesmo porque não tinham razão, e o
velho lavrador era o legítimo dono das terras.
E foi assim que o rapaz se viu elevado a
grandes alturas, considerado o primeiro advogado do mundo.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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