A senhora Ratazana teve uma ninhada de
filhos.
Criou-os com todo o mimo e cuidado, e não se
esquecia de lhes dar conselho e ensiná-los como boa e previdente mãe.
— Temos inimigos terríveis, inimigos que não
têm piedade para a nossa raça! É preciso acautelarem-se, e, enquanto não
conhecerem o mundo, não saírem senão debaixo da minha direção.
Ora um dos ratinhos, que já se considerava um
valentão lá porque aprendera a roer um pedaço de madeira, saiu às escondidas do
ninho e foi espairecer até ao jardim.
Gostou muito de ver o sol, as plantas, as
flores, e os passarinhos atravessando os ares ou saltitando de ramo em ramo.
Mas o que mais bonito lhe pareceu foi um gatarrão gordo e luzidio, que estava a
dormir à sombra de uma árvore. Esteve a contemplá-lo com admiração e, por fim,
sentindo ruído de passos, assustou-se e voltou a correr para o seu buraquinho,
enquanto o gato abria os olhos e o fitava com má catadura.
Voltando ao ninho, o ratito curioso contou à
mãe o que vira e perguntou-lhe que animal seria aquele, de lindo pelo macio e
brilhante, que estava no jardim estendido à sombra de uma árvore?...
A mãe, para poder responder, seguiu-o ao
jardim; mas, quando deu com os olhos no gatarrão que ressonava satisfeito,
deitou os dentes ao cachaço do pequenino e a correr como doida levou-o para
casa.
Por pouco não teve um desmaio de aflição.
Quando voltou a si e se viu rodeada dos seus
pequenos, disse-lhes:
— Meus filhos, aquele animal é o nosso pior
inimigo! É o gato! Sob a aparência de mansidão e bondade, abriga uma grande
fereza. Tu achaste-o muito bonito, meu inocente filho, mas se te chegasses ao
pé dele, num instante te cravava as unhas e te despedaçava sem dó. Aprendam,
meninos, a nunca se fiarem nas aparências. Às vezes os que mais bondosos
parecem e melhor nos tratam são os que mais nos odeiam e mais depressa nos
despedaçariam, se lhes caíssemos nas unhas.
Os ratinhos ficaram a tremer de medo e nunca
mais se levaram pelas aparências, por mais belas que fossem.
E assim devemos fazer todos.
---
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário