O GALO, O GATO, E O RATINHO
Um ratinho que pela primeira vez saíra a passeio, voltou para o
buraco, todo afadigado, suando; a mãe que o viu, perguntou sobressaltada: “O
que tens, filhinho?” — Ah! mamãe; se vosmecê tivesse visto...
“Então o que foi?” — Ouça, ia eu passear; tudo estava tão bonito,
que não sabia ao que atendesse; mamãe, lá fora é mais divertido do que aqui na
nossa casa. No meio de tudo, em pouca distância, avisto um bicho grande,
malhado, de longa felpa, de olhos brilhantes e doces, de ar meigo e fagueiro; é
da nossa raça por certo, mamãe, talvez seja nosso parente. Ia chegar-me para
travar conversa, quando um maldito berrador me assustou, a mim que não sou lá
dos mais medrosos. Que bicho horrendo, mamãe, era esse! turbulento, inquieto,
tem sobre a cabeça um pedaço de carne, seus braços são curtos e cheios de
penas, e para andar por certo lhe não servem. Mal me avistou, deu ele um grito
que me fez estalar a cabeça, e me obrigou a fugir praguejando-o, principalmente
porque não me deixou ir falar com o meu camarada, que não sei mais aonde
poderei encontrar. — Pobre filho! disse-lhe a mãe, nunca procures encontrar-te
com esse malvado; é um hipócrita, inimigo jurado de nossa raça; a quantos dos
nossos pilha, mata e come; é um gato. Se dele escapaste, deves a Deus, e ao
outro bicho. Esse, sim, pode-te ser útil, desse gostamos nós muito, e quando o
pilhamos a jeito, dá-nos sofrível papata; é um galo.
MORAL DA HISTÓRIA: Nunca te fies na aparência; assim acabou a ratazana as explicações que deu ao filho, e com ela repitamos: — Nunca te fies nas aparências.
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Ano de
publicação: 1852.
Origem:
Brasil (imitadas de Esopo e La Fontaine)
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