Filho de um simples operário, Carolino
lembrou-se um dia de se intitular adivinho. Era um moço esperto como poucos, e
viu que este mundo era dos espertalhões. Anunciou que curava todas as doenças e
que era capaz de adivinhar quanto segredo houvesse.
Lembrando-se, porém, que ninguém é profeta em
sua terra, Carolino mudou-se da cidade. Foi residir na capital do reino, onde
toda a gente o conhecia por Dr. Grilo, em vista da sua imensa altura e
extraordinária magreza.
Em pouco tempo, o Dr. Grilo tornou-se
célebre. Com charlatanice, conseguia coisas maravilhosas.
***
Sucedeu, entretanto, que o rei, sabendo
daquilo, mandou chamá-lo ao palácio.
O Dr. Grilo para lá se dirigiu, tremendo de
susto, sabendo que o soberano era malvado, e que com ele ninguém brincava.
Apresentando-lhe a mão fechada, ordenou-lhe
sua majestade que dissesse o que era que ali estava.
Vendo-se naqueles assados, o rapaz exclamou:
— Ah! Grilo! em que mãos estás metido?
— É verdade, disse o rei abrindo a mão. É
mesmo um grilo que tenho aqui.
***
Tempos depois, o monarca fê-lo comparecer
novamente à sua presença.
— De que bicho é este sangue? indagou,
apresentando um frasquinho.
O adivinho, desesperado, não tendo outra
coisa que fazer, disse:
— Aí é que a porca torce o rabo.
— É de porca mesmo. Adivinhaste, disse o rei.
Passado um mês, como prosseguissem os
sucessos assombrosos do rapaz, o soberano mandou que o trouxessem, pela terceira
vez.
Ordenou-lhe sob pena de morte, que
descobrisse os ladrões de um tesouro real.
Os verdadeiros gatunos, que eram três criados
do paço, receando que o Dr. Grilo de fato adivinhasse, foram ter com ele e
suplicaram-lhe que os não deitasse a perder.
O rapaz, sem perda de tempo, denunciou-os ao
rei.
Grilo foi nomeado, então, médico do hospital
militar.
Havia nessa ocasião uma grande epidemia que
grassava entre os soldados, sem que médico algum soubesse descobrir o que era.
Assim que foi nomeado, o falso doutor
dirigiu-se à enfermaria, e declarou que, no dia seguinte, iria autopsiar todos
os enfermos mesmo vivos.
Pela manhã estavam todos bons, e o hospital
inteiramente vazio, pois os soldados nada tinham, fingindo-se doentes, a fim de
não irem para a guerra.
O rei, acreditando na ciência de Carolino
deu-lhe carta de nobreza e grandes riquezas.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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