Um cego andava pedindo esmola pela mão de um
moço; a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça. O moço
pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo na sacola, e ia comendo a linguiça
muito à sorrelfa. O cego, desconfiado, pelo caminho começa a bradar com o
moço:
– Ó grande tratante, cheira-me a linguiça!
Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.
– Pela minha salvação, que não deram senão
pão.
– Mas cheira-me a linguiça, refinado
larápio!
E começou a bater com o bordão no moço
pancadas de criar bicho. O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas
havia de pagar. Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço
embicou o cego para um tronco, e grita-lhe:
– Salta, que é rego. O cego vai para saltar e
bate com os focinhos
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Trancoso)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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