Certa vez houve uma grande festa no céu, para
a qual foram convidados os bichos da floresta. Todos se encaminharam para lá, e
o cágado também — mas este era vagaroso demais, de modo que andava, andava e
não chegava nunca.
A festa era só de três dias e o cágado nada
de chegar. Desanimado, pediu a uma garça que o conduzisse às costas. A garça
respondeu: "Pois não", e o cágado montou.
A garça foi subindo, subindo, subindo; de vez
em quando perguntava ao cágado se estava vendo a terra.
— Estou, sim, mas lá longe. A garça subia
mais e mais.
— E agora?
— Agora já não vejo o menor sinalzinho da
terra.
A garça, então, que era uma perversa, fez uma reviravolta no ar, desmontando o cágado. Coitado! Começou a cair com velocidade cada vez maior. E enquanto caía, murmurava:
Se eu
desta escapar,
léu, léu, léu,
se eu desta escapar,
nunca mais ao céu
me
deixarei levar.
Nisto avistou lá embaixo a terra. Gritou:
— Arredai-vos, pedras e paus, senão eu vos
esmagarei! As pedras e paus se afastaram e o cágado caiu. Mesmo assim
arrebentou-se todo, em cem pedaços.
Deus, que estava vendo tudo, teve dó do
coitado. Afinal de contas aquela desgraça tinha acontecido só porque ele teimou
em comparecer à festa do céu. E Deus juntou outra vez os pedaços.
É por isso que o cágado tem a casca feita de
pedacinhos emendados uns nos outros.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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