Zenóbio era empregado da Limpeza Pública; –
exercia tão baixo cargo porque não encontrara de pronto outra colocação e
necessitava sustentar uma numerosa família. Trabalhava alegremente, sem se
importar com os tolos preconceitos sociais, porque era um desses homens
sensatos que pensam, com justa razão, que é o homem que nobilita o emprego, e
não o emprego que nobilita o homem. Há varredores honrados, do mesmo modo que
há ministros desonestos.
Um dia em que estava varrendo uma rua pouco
frequentada, achou uma bolsa contendo cem mil-réis. Em vez de ficar com o
achado, como era honesto, procurou o dono, e tanto fez que o encontrou.
Mas esse homem, que era um negociante,
sovina, avaro e miserável em vez de ficar agradecido, retirou de dentro dez mil-réis,
e acusou o varredor de ter roubado.
Foram à justiça.
O juiz, um bom, honrado e digno magistrado,
ouviu a acusação, e depois a defesa. Em seguida sentenciou da seguinte forma:
— O comerciante diz que perdeu uma bolsa com
cem mil-réis, e que o varredor Zenóbio a achou. Ele, pelo seu lado diz que a
entregou sem conferir, tal como a havia encontrado. Ora, como a bolsa contém
noventa e não cem mil-réis, que o negociante alega, claro está que não é esta.
Assim, mando que entregue a bolsa ao varredor, e deverá pagar ainda por cima as
custas.
Zenóbio ficou muito satisfeito, ao passo que
o outro ainda teve que gastar mais dinheiro, para castigo de sua ganância e
perversidade.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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