Um homem tinha muitos filhos, e já não tinha
a quem convidar para compadre; nasceu-lhe mais um, e ele disse: — Seja teu
padrinho Santo Antônio. O pequeno cresceu, e andava com os outros irmãos no
monte, quando se perderam e foram dar a uma cabana, onde morava uma velha, que
lhes fez muita festa:
— Entrai para aqui, meus meninos, que eu
dou-vos biscoitos.
Os pequenos entraram; a velha assim que os
apanhou de dentro meteu-os dentro de uma arca, para os engordar e comer depois.
De vez em quando dizia:
— Botai de fora o dedinho.
O afilhado de Santo Antônio metia pelo buraco
o rabo de um ratinho que tinha apanhado e a velha deixava-os ficar mais tempo;
por fim o rato fugiu, e a velha vendo que estavam gordos, abriu a caixa e
disse:
— Ide-me, meus meninos, buscar uma manadinha
de lenha.
Quando eles andavam à lenha, veio Santo
Antônio, e avisou-os, que a velha o que queria era assá-los no forno porque ela
não tinha amassadura; e que a tudo quanto ela lhes mandasse fazer, dissessem
sempre que não sabiam, e que ela os ensinasse. Foram para casa; a velha
atarracou o forno de lenha, e aqueceu-o; depois foi buscar a pá, e disse para
os pequenos:
— Saltai aqui um bocadinho.
— Saltai vós, tia, primeiro, para sabermos
como é.
A velha põe-se a saltar na pá, e os pequenos
à uma pregam com ela dentro do forno, dizendo:
Pela graça de Santo Antônio
Carregue-se para o inferno este demônio.
Assim que a velha começou a arder, saíram-lhe
dos olhos dois cães lobados, que ficaram à obediência dos meninos e caçavam
toda a caça para eles. Soube-se que havia um dragão numa terra, que comia uma
pessoa por dia, e tocava a vez à filha do rei. Ora o rei dava a filha em
casamento fosse a quem fosse que a salvasse. O afilhado de Santo Antônio foi
com os seus cães lobados e matou o dragão; cortou as pontas das sete línguas, e
soltou a princesa. Quando o rei viu a filha, clamou:
— Quem foi que te deu a vida?
— Foi um pobre rapaz, com dois cãezinhos que
trazia.
O rei deu ordem que viesse à sua presença o
rapaz; mas um embusteiro que tinha cortado as cabeças do dragão é que se
apresentou; o rei queria que a filha casasse com ele. Ela não quis, e pôs-se à
janela a chorar, quando passou o rapaz:
— É aquele, meu pai. É aquele:
O rei chamou-o; veio todo envergonhado, e
ainda trazia as pontas das línguas do dragão. Não havia que duvidar; fez-se o
casamento com a princesa, e foi o afilhado de Santo Antônio que fez feliz toda
a sua família.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Airão)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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