PRIMEIRA VERSÃO
Era uma vez um homem, que casou com uma mulher desmazelada, e depois dizia o homem:
Oh mulher, oh mulher,
Eu mercara-te uma roca…
A MULHER
— Isso não, marido, não
Que me fá-la cara torta;
Com o dinheiro e com a roca
Compraremos um burrinho,
O burrinho leva os odres,
E os odres leva o vinho.
MARIDO
— Oh mulher, oh mulher,
Eu mercara-te umas meias…
A MULHER
— Isso não, marido, não
Que me fá-las pernas cheias.
Antes com esse dinheiro
Compraremos um burrinho,
O burrinho leva os odres
E os odres leva o vinho.
***
SEGUNDA VERSÃO
Di-lo o homem:
— Oh mulher, tu não fias? tu não trabalhas?
— É um dia santo muito grande, não se pode hoje
trabalhar.
Ao outro dia ele perguntou o mesmo, e ela o
mesmo respondeu, e ele disse assim:
— Deixa, que aí vem o Março Marçagão que ele
to dirá.
— E eu pego numas poucas de esteiras e
boto-as no primeiro de Março a corar.
— Ele não quer esteiras, quer antes meadas.
O marido na véspera do primeiro de Março
pegou num capote muito velho, cobriu-se para fingir um velho muito corcovado, e
a mulher pela manhã cedo levantou-se e foi por muitas esteiras a corar; e ele
apareceu-lhe ali em velho e disse assim:
— Essas são as meadas que tu tens para corar?
— São.
— Então teu marido não te dizia? Espera, que
eu te falo.
Pega num pau, bateu, bateu até não poder
mais, e deixou-a por morta. Assim que ela se pôde erguer foi para casa. A
primeira coisa foi comprar roca e fiar. Depois já dizia o homem:
— Então era o que te eu dizia ou não?
Março, Marçagão
Cura meadas
Esteiras não.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Algarve e Porto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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