Havia perto de uns matos uma casa onde viviam
três irmãs, que eram muito amigas. O rei costumava ir caçar àqueles matos, e
passava sempre pela casa; ora defronte desta casa viviam duas feiticeiras, mãe
e filha, que, invejosas da formosura da irmã mais nova e do modo como tratava
as irmãs mais velhas, lhe levaram uns coentros e lhe disseram:
— Deite a menina estes coentros nas sopas de
suas irmãs, mas não coma delas.
A pequena na sua sinceridade assim fez; mas
logo que as irmãs comeram aquilo, logo se tornaram em bois. A irmãzinha muito
pesarosa tratou-os como se fossem gente. Passando o rei da caça viu a pequena,
e agradado da sua formosura casou com ela e levou os bois para o palácio,
tratando-os muito bem. A feiticeira sabendo isto prometeu vingar-se. Passados
tempos, a rainha teve um menino, estando o rei na caça. Ouvindo isto a
feiticeira foi com a sua filha e foi ter à rainha e lhe disse:
— Coitadinha! está tão doentinha!
E chegando as mãos pelas fontes lhe meteu
dois alfinetes enfeitiçados. A rainha tornou-se em pomba e fugiu. A feiticeira
meteu a filha na cama e foi-se embora. Chegando o rei, disse:
— Que é isto, que estás agora tão feia?
— É a diferença da doença.
E a feiticeira mandou tratar os bois com
folha e erva, e eles nada comiam. Havia no palácio uma cadelinha chamada Bola-Bola, e falava. A pombinha vinha e
dizia:
— Bola-Bola!
Respondia a cadela:
— Que quer, minha senhora?
Como vai o meu menino
Com a sua ama nova?
— De noite, cala-se,
E de dia chora.
Tantas vezes se repetiu isto, que o vieram a
saber, e foram dizer ao rei, o qual mandou enviscar as árvores e apanharam a
pomba. Indo o rei fazer-lhe festas, achou dois alfinetes na cabeça e puxou; ela
tornou-se na verdadeira rainha. O rei obrigou as duas feiticeiras a tornarem os
bois nas duas irmãs, que eram suas cunhadas; assim fizeram, e depois mandou-as
rolar às duas feiticeiras numas pipas de pregos. E o rei e a rainha foram muito
felizes dali por diante.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Ilha de São
Miguel—Açores)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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