Era uma vez um rei que tinha por costume
andar de noite escutando pelas portas para saber o que se passava. Viu luzir
por um buraco da fechadura, chegou o ouvido à escuta, e estavam uns sujeitos
conversando. Dizia um:
— Eu antes queria uma noite dormir com a
rainha, do que ter muitos contos de réis.
O rei ouviu aquilo e tomou-o de olho. No dia
seguinte mandou-o vir ao palácio. O rapaz ia muito atrapalhado da sua vida. O
rei tinha dado ordem ao seu cozinheiro de lhe fazer um jantar com favas cosidas
em água e sal, favas guisadas, favas ensopadas, favas com arroz, favas com
presunto, enfim, favas de todos os feitios. Assim que o rapaz apareceu na
presença do rei, este levou-o para uma mesa, e disse-lhe que era para lhe
oferecer de jantar.
O rapaz obedeceu; vieram as favas cosidas,
comeu. Vieram as favas guisadas, comeu; vieram favas ensopadas, comeu. Por fim
já não podia mais, e o cozinheiro sempre a trazer-lhe favas de todos os
feitios. O rapaz já estava tão farto e enjoado de favas, que pediu aos criados
que lhe não trouxessem mais.
Veio o rei à sala de jantar, e perguntou-lhe:
— Então, por que é que não comes mais?
— Oh, senhor! isto tudo são favas; comi
muitas no princípio, mas agora estou farto de favas.
— Sim, tudo são favas, quer sejam cosidas ou
ensopadas. Pois vá-se você embora, e não torne a dizer que dava toda a riqueza
do mundo para dormir uma noite com a rainha; e lembre-se do que lhe aconteceu,
por que:
— Favas, todas são favas, e mulheres todas
são mulheres.
Assim ficou curado de tolo.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Algarve)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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