AS BARRAS DE OURO
Três irmãos estavam num monte fazendo carvão, e cada um guardava a borralheira, para que se não apagasse enquanto os outros dormiam. Coube a vez ao mais moço; mas não sei lá porque, ele descuidou-se e apagou-se a borralheira. Ficou muito apoquentado, e antes que os irmãos acordassem procurou modo de tornar a acender o fogo; viu lá longe uma luzinha, e lembrou-se de ir lá pedir fogo. Foi, andou, andou, até que chegou ao pé de uma grande borralheira em que estavam uns homens muito negros a fazer carvão. Pediu se lhe davam algumas brasas, que era para acender a sua borralheira, que se lhe tinha apagado, e vai eles disseram com má cara:
— Tire daí um tição e leve-o.
O rapaz tirou o tição e botou a correr; ia para acender a sua borralheira, mas o tição apagou-se, e deitou-o para a banda. Tornou outra vez lá a pedir outro tição; disseram-lhe com a mesma catadura:
— Tire daí um tição e leve-o.
Aconteceu o mesmo, apagou-se; teve coragem de tornar outra vez a ir pedir aos carvoeiros, e eles sempre lhe deram um tição, que se apagou como os outros dois. Nisto ia amanhecendo, os irmãos acordaram, e o rapaz contou-lhe tudo, e quando os irmãos olharam para os tições apagados, viram três grossas barras de ouro. Pularam de contentes, e disseram:
— Deixa estar, que esta noite um de nós há de ir lá pedir mais tições.
— Havemos de mandar fazer um palácio para morarmos juntos.
Fez-se o palácio, que era muito rico, e depois de pronto meteram-se dentro. Passou um dia pela porta um mendigo e pediu-lhes esmola; mandaram-no entrar e deram-lhe de comer. Vai o velho assim que acaba de comer benzeu-se e começou a dar graças a Deus, e de repente todo o palácio se desfez como num sonho, e os três irmãos e todos os que estavam com eles à mesa acharam-se no meio da rua, como se naquele lugar nunca tivesse sido senão um monte de entulho.
---
Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Arredores do Porto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário