A
LENDA DO TINKUÃ
(Rio Negro)
Um chefe teve em outro tempo um filho que
levou encantado, com a pele riscada, na barriga de uma piraíba. Esta piraíba
comia a gente que passava pelo lago. Os tapuios diariamente punham uma criança
ao velho piraíba para ele engolir e deixar passar aqueles que iam pescar no
lago.
Os chefes viam que diariamente a gente
desaparecia no lago e disseram, segundo dizem:
— Vamos já cortar uambé para fazer uma corda
para pescar a piraíba que tem um filho na barriga.
— Vamos.
Foram, depois disso, ao mato buscar uambé
para fazer uma linha de pescar para puxar a piraíba, e a isca deles foi uma
criança bem bonita que atiraram no meio do lago. A piraíba pegou no anzol que
puxaram, porém, a piraíba era valente e arrebentou a linha e fugiu. Depois um
feiticeiro chamou os chefes e lhes disse:
— Meus netos, vocês não peguem a piraíba
porque ela não é boa, é coisa má, é a alma do filho do chefe. Vocês agora façam
uma linha de pescar com os cabelos de vossas mulheres para então a pegarem.
As mulheres imediatamente cortaram os cabelos
e fizeram uma linha de pescar bem grossa e depois puseram para isca uma criança
e puxaram a velha piraíba. Os pajés disseram-lhes:
— Vocês a matem, abram-lhe a barriga e nela
acharão um pássaro que é a alma do filho do chefe. Vocês não o deixem fugir ou
voar porque quando ele cantar: Tincuã! Nós todos morreremos. Acharam o pássaro
na barriga, mas fugiu da mão deles. O pássaro subiu e cantou: “Tincuã!
Tincuã!...”
O céu ficou completamente escuro, a terra
tremeu, o lago secou e a gente toda morreu, e só ficou no mundo o pássaro
cantando: “Tincuã! Tincuã!...”
O pássaro feiticeiro que nós vemos hoje foi
outrora o filho do chefe que estava na barriga da piraíba.
Contam que ele canta quando as notícias não
são boas.
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Ano de publicação: 1890.
Origem: Brasil (Amazonas)
Pesquisa e adequação
ortográfica: Iba Mendes (2021)
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