terça-feira, 14 de dezembro de 2021

 

A LENDA DO TINKUÃ
(Rio Negro) 

Um chefe teve em outro tempo um filho que levou encantado, com a pele riscada, na barriga de uma piraíba. Esta piraíba comia a gente que passava pelo lago. Os tapuios diariamente punham uma criança ao velho piraíba para ele engolir e deixar passar aqueles que iam pescar no lago.

Os chefes viam que diariamente a gente desaparecia no lago e disseram, segundo dizem:

— Vamos já cortar uambé para fazer uma corda para pescar a piraíba que tem um filho na barriga.

— Vamos.

Foram, depois disso, ao mato buscar uambé para fazer uma linha de pescar para puxar a piraíba, e a isca deles foi uma criança bem bonita que atiraram no meio do lago. A piraíba pegou no anzol que puxaram, porém, a piraíba era valente e arrebentou a linha e fugiu. Depois um feiticeiro chamou os chefes e lhes disse:

— Meus netos, vocês não peguem a piraíba porque ela não é boa, é coisa má, é a alma do filho do chefe. Vocês agora façam uma linha de pescar com os cabelos de vossas mulheres para então a pegarem.

As mulheres imediatamente cortaram os cabelos e fizeram uma linha de pescar bem grossa e depois puseram para isca uma criança e puxaram a velha piraíba. Os pajés disseram-lhes:

— Vocês a matem, abram-lhe a barriga e nela acharão um pássaro que é a alma do filho do chefe. Vocês não o deixem fugir ou voar porque quando ele cantar: Tincuã! Nós todos morreremos. Acharam o pássaro na barriga, mas fugiu da mão deles. O pássaro subiu e cantou: “Tincuã! Tincuã!...”

O céu ficou completamente escuro, a terra tremeu, o lago secou e a gente toda morreu, e só ficou no mundo o pássaro cantando: “Tincuã! Tincuã!...”

O pássaro feiticeiro que nós vemos hoje foi outrora o filho do chefe que estava na barriga da piraíba.

Contam que ele canta quando as notícias não são boas.



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Ano de publicação: 1890.
Origem: Brasil (Amazonas)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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