Havia uma velha, que estava sempre ao postigo
até que horas. As filhas perguntavam-lhe:
— O que é que a mãe faz aí ao postigo por
essa noite adiante?
— Deixem-se lá, filhas, que é do postigo que
as hei de casar.
Passado tempo foi a velha ao palácio falar à
rainha:
— Venho aqui saber se vossa majestade quer
mandar ensinar algumas das suas galinhas a falar?
— Há de ter sua graça! disse a rainha. Quero,
quero.
E mandou-lhe entregar uma dúzia de galinhas.
A velha foi para casa, e uns poucos de dias viveram à tripa larga, ela e mais
as filhas, comendo galinha cosida e assada, frita e fritangada. Quando se
acabaram, tornou a velha ao palácio, e disse à rainha:
— Ai minha rica rainha, tenho uma paixão de
estalar; as galinhas já estavam falando tão claro, que hoje tencionava vir
entregá-las. Quando as estava ajuntando, elas que começam numa cantarolada:
Có-co-ro-có, cá-ca-ra-cá
A nossa Rainha com o Cabra está.
— Eu ainda as quis calar, mas as galinhas
disseram-me que do seu poleiro bem viram o conde Cabra entrar para o palácio;
eu desesperada fechei-as, e venho saber o que quer vossa majestade que se faça.
A rainha ficou muito desesperada, e deu-lhe
ordem que fosse logo para casa, e que as matasse, sem ficar nenhuma, e que não
queria mais galinhas que falassem. E deu-lhe muito dinheiro, para que a mulher
não dissesse a ninguém o que tinha acontecido, e que quando tivesse alguma
necessidade viesse a palácio, que a ajudaria. Foi assim que a velha conseguiu
arranjar meio de casar as suas filhas, a quem a rainha deu muitos bons dotes.
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