Era uma vez um pescador, que indo certo dia
ao mar encontrou o rei dos Peixes. O rei dos Peixes pediu-lhe que o não
levasse. O pescador consentiu, mas a mulher tanto fez com ele, dizendo-lhe que
lhe levasse o rei dos Peixes, que o pescador não teve remédio senão levá-lo.
A pescada mandou então ao homem que a
partisse em cinco postas: uma para a mulher, outra para a égua, outra para a
cadela, e duas para serem enterradas no quintal. Assim aconteceu.
Da mulher nasceram dois rapazes; da égua dois
cavalos; da cadela dois leões, e do quintal duas lanças. Os rapazes cresceram;
quando estavam já grandes, pediram ao pai que os deixasse ir viajar. Partiram
cada um com sua lança, seu leão e seu cavalo.
Ao chegarem a um sítio onde havia dois
caminhos, um tomou por um, e outro por outro, prometendo auxiliarem-se se algum
deles precisasse de socorro. Um deles foi ter a um monte onde viu uma donzela
quase a ser vítima de uma bicha de sete cabeças. O rapaz matou a bicha e casou
com a donzela. Um dia, estavam ambos à janela, e o rapaz ao avistar ao longe
uma torre, disse:
— Que torre é aquela?
— É a torre de Babilônia
Quem vai lá nunca mais torna.
— Pois hei de ir lá eu, e hei de tornar.
Fez-se acompanhar do leão, pegou na lança,
montou a cavalo e seguiu. Na torre havia uma velha, que ao ver o cavaleiro,
cortou um cabelo da cabeça, e disse:
— Cavaleiro, prende o teu leão a este cabelo.
O cavaleiro assim fez; mas vendo que a velha
se dirigia contra ele, disse:
— Avança, meu leão.
E a velha respondeu:
— Engrossa, meu cabelão.
Nisto o cabelo da velha transformou-se em
grossas correntes de ferro e o cavaleiro caiu num alçapão da torre.
Algum tempo depois o outro rapaz chegou a
casa do irmão, mas como ambos eram muito parecidos (só este tinha na face um
sinal) a cunhada facilmente o tomou pelo marido e deu-lhe pousada nessa noite.
Ao outro dia estavam ambos à janela e o
cunhado ao avistar a torre velha, perguntou:
— Que torre é aquela?
— Já te disse, homem, que
Era a torre de Babilônia
Quem vai lá nunca mais torna.
— Pois hei de eu lá ir e hei de voltar.
Aprontou-se exatamente como o irmão, e
marchou em direção à torre. Assim que a velha o viu, disse-lhe para prender o
leão ao cabelo. O rapaz fingiu que o prendia, mas deixou cair o cabelo. Então a
velha correu para ele. O rapaz disse:
— Avança meu leão!
E a velha:
— Engrossa meu cabelão.
O cabelo não engrossou e o leão avançou. A
velha:
— Não me mates, que eu dou-te muitas
riquezas.
O cavaleiro não se importava. A velha:
— Não me mates, e aqui tens um vidrinho que
desencanta todas as pessoas encantadas na torre.
O cavaleiro recebeu o vidro; mandou avançar o leão, e matou a velha. Depois desencantou todos que estavam na torre. O irmão, porém, apenas soube que a mulher por engano havia quebrado os laços conjugais, assassinou o seu salvador.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Porto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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