sábado, 25 de dezembro de 2021

A romãzeira do macaco (Conto), de Adolfo Coelho

 

A ROMÃZEIRA DO MACACO

Era uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco tempo, nasceu uma romãzeira. Quando o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe:

Arranca a tua oliveira para crescer a minha romãzeira.

Responde o homem:

Não estou para isso.

Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe:

Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira, para crescer a minha romãzeira.

Responde a justiça:

Não estou para isso.

Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe:

Rei, tira a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.

Responde o rei:

Não estou para isso.

Foi o macaco ter com a rainha:

Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, etc.

Responde a rainha:

Não estou para isso.

Foi-se ter com o rato:

Rato, rói as fraldas à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, etc.

Responde o rato:

Não estou para isso.

Foi-se ter com o gato:

Ó gato come o rato, para ele roer as fraldas à rainha, etc.

Responde o gato:

Não estou para isso.

Foi-se ter com o cão:

Ó cão, morde o gato, para ele comer o rato, etc.

Responde o cão:

Não estou para isso.

Foi ao pau e disse-lhe:

Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, etc.

Não estou para isso.

Foi ter com o lume:

Lume, queima o pau, para ele bater no cão, etc.

Não estou para isso.

Foi ter com a água:

Ó água, apaga o lume para ele queimar o pau, etc.

Não estou para isso.

Foi ao boi:

Ó boi, bebe a água para ela apagar o lume, etc.

Não estou para isso.

Foi ao carniceiro:

Carniceiro, mata o boi para ele beber a água, etc.

Não estou para isso.

Foi ter com a morte:

Ó morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, etc. A morte ia para levar o carniceiro e ele disse-lhe: Não me leves que eu mato o boi. Disse o boi:

Não me mates que eu bebo a água.

Disse a água:

Não me bebas que eu apago o lume.

Disse o lume:

Não me apagues que eu queimo o pau.

Disse o pau:

Não me queimes que eu bato no cão.

Disse o cão:

Não me batas que eu mato o gato.

Disse o gato:

Não me mordas que eu como o rato.

Disse o rato:

Não me comas que eu roo as fraldas à rainha.

Disse a rainha:

Não me roas as fraldas que eu ponho-me de mal com o rei.

Disse o rei:

Não te ponhas mal comigo que eu tiro a vara à justiça.

Disse a justiça:

Rei, não me tires a vara que prendo o homem.

Disse o homem:

Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira.

E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.


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Ano de publicação: 1879.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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