Sendo inseparáveis amigas, a raposa e a onça
brigaram um dia. Aquela, por ser ladina e esperta, conseguia fugir e evitar a
sua inimiga, todas as vezes que se encontravam.
Por mais estratagemas que empregasse, a onça
nunca pôde agarrá-la. Lembrou-se, então, de se fingir de morta.
A notícia correu pelo mato, e os bichos foram
ver o cadáver, deitado de barriga para o ar. Sabendo que a sua adversária
morrera, a raposa quis certificar-se se era verdade. Dirigiu-se com muita
cautela para o lugar onde o corpo se achava, e, chegando perto, perguntou:
— Então a onça está morta de verdade?
— Está, respondeu o macaco.
— Ela já arrotou? perguntou a raposa.
— Ainda não, disse o lagarto. Por quê? Quando
a gente morre, costuma arrotar?
— Pois você não sabia? O meu defunto avô,
quando faleceu, arrotou três vezes, respondeu a raposa.
A onça ouvindo aquilo, arrotou.
— Os mortos não arrotam, exclamou a raposa,
correndo.
Desesperada por ver que o seu plano falhara,
a onça levantou-se, e desistiu da vingança.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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