Passavam um dia duas fadas por um jardim
formosíssimo e bem tratado, quando viram um monte de estrume que o chacareiro
havia deixado para estercar a terra.
— Que coisa nojenta! Disse uma delas. Como é
que se consente num jardim tão belo tamanha porcaria, ainda que seja por um
momento!...
— Tive uma ideia, disse a outra. Eu fado para
que essa esterqueira se transforme numa mulher tão linda como Leona, a princesa
adivinha, que é a mais formosa criatura do mundo.
— E eu fado, retorquiu a outra, para que ela
tenha um anel no dedo. Enquanto estiver com esse anel, só poderá pronunciar a
palavra “porcaria”, sem que nada mais possa dizer. Tirando-lhe o anel, será uma
moça instruída e espirituosa, ao passo que, quem o usar, ficará com o mesmo
defeito.
As duas fadas desapareceram, e, do estrume,
surgiu uma moça maravilhosamente formosa.
Era nos jardins reais. O príncipe, passando
por acaso, viu-a e ficou apaixonado. Perguntando-lhe quem era, de onde vinha,
como se chamava, só obteve em resposta:
— Porcaria! Porcaria!...
Admirado por ouvir aquela grosseria, tão
suja, em boca tão formosa, sua alteza insistiu. Em vão! A deslumbrante moça
respondia sempre:
— Porcaria!... Porcaria!...
O príncipe quis fazê-la sua esposa, mas o
rei, os ministros, os conselheiros da coroa e os grandes dignatários não o
consentiram.
Não podendo, entretanto, deixar de vê-la a
todos os instantes, o futuro soberano fê-la alojar no palácio.
Tempos depois teve de se casar, como era
obrigado por lei. Deram-lhe como noiva uma princesa, filha de um imperador
vizinho e aliado.
Preparando-se a toilette da noiva, uma criada
lembrou-se que Porcaria tinha um anel sem igual.
Tirou-o, e apresentou-o à sua nova ama, que o
enfiou no dedo
Quando o cortejo chegou à igreja, na hora da
celebração do casamento, perguntando o padre à noiva, se livremente recebia o
príncipe, ouviu-a dizer:
— Porcaria!... Porcaria!...
Não houve meios de se lhe arrancar outra
coisa:
— Porcaria!... Porcaria!... falava sempre.
O príncipe, em vista daquilo, exclamou:
— Não! Não me serve! Porcaria por porcaria,
tenho lá no palácio uma melhor.
Foram buscar a outra, que encontraram falando
e conversando com todo o espírito, e o casamento foi celebrado.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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