Satanás tinha dado um grande campo a um
lavrador com a condição de que metade da colheita seria para ele. Naquela
ocasião, e na terra onde o fato se dera, não era conhecida senão a sementeira
da batata, que foi a que o lavrador fez. Chegada a época da colheita, o diabo
veio reclamar o que lhe pertencia, e, dizendo que a metade dele era a que estava
debaixo da terra, enquanto que a do ar era do lavrador, deixou este só com a
rama, sem ter alimento para todo o ano. O pobre do homem ludibriado por
Satanás, lastimava a sua sorte, chorando à beira do caminho que passava por
junto do campo, quando apareceu um santo monge que inquirindo a causa do pesar
do lavrador, resolveu pregar uma peça ao diabo. Disse ao homem que o
acompanhasse e, chegado ao mosteiro a que pertencia, deu-lhe sementes de trigo,
ensinando-lhe como se semeava e como dele se fabricava pão.
O lavrador fez o que o santo monge lhe
indicara, e, logo que veio o tempo da colheita, chamou Satanás que, como no ano
anterior, reclamou o que estava sob a terra, mas daquela vez ficou logrado pois
só teve as raízes enquanto o lavrador se regalava com a magnífica colheita de
trigo que lhe forneceu um saborosíssimo pão.
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Ano de publicação: 1892
Origem: Portugal
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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