A LENDA DA PAPOULA
Naqueles bons tempos em que os deuses desciam à terra a confraternizar com os humanos, vivia nos Alpes um rapaz filho de gente pobre mas que pela sua bondade e pelo carinhoso desvelo com que sabia velar à cabeceira dos doentes era querido e estimado por todos.
Tinha a grande e apreciável arte de por meio de doces cantares saber adormecer aqueles que eram apoquentados pelas mais terríveis e rebeldes insônias, de modo que os seus conterrâneos lhe não deixavam um momento só de descanso.
Em qualquer adoecendo, a família ia logo ter com o pobre rapaz, que não podendo resistir às suplicas lá se instalava junto dos doentes, embalando-os com as suaves melodias que chamam o sono e que ele sabia dizer como ninguém.
Mas não podendo resistir a tão excessivas e continuadas fadigas e vigílias, foi pouco a pouco enfraquecendo, até que um dia se extinguiu ao cair da tarde, quando o sol morria no extremo horizonte...
Então os deuses para premiarem as boas ações
do que morrera praticando o bem, tornaram-no imortal, transformando-o numa
planta, na papoula, a quem deram a principal virtude pela qual os doentes o
desejavam sempre junto a si, a de fazer esquecer o sofrimento por meio do sono.
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Ano de publicação: 1892
Origem: Portugal
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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