A GATA MUDADA EM MULHER
Um misantropo, no demais modelo de todas as virtudes, tinha pela
sua gata um amor exclusivo; achava-a bonita, engraçada, mansinha, e por fim, o
que no sexo dela é raríssimo, tão discreta quão fiel e agradecida. Ah! se uma
mulher houvesse como esta gatinha, dizia, ou se dado me fosse transformar em
mulher este mimo dos animais, então acharia uma companheira com quem
atravessasse o mar tempestuoso da vida! Condoeu-se dele uma fada, e cedendo a
seus votos, transformou a gata em moça. Confuso pelo milagre, o nosso homem
deu-se por feliz em poder naquele dia mesmo ir aos pés dos altares dar a mão de
esposo a essa bela mulher.
Gata-moça e misantropo estavam nas nuvens, e este repetia àquela
mil lições e mil conselhos, que ela, multiplicando-lhe afagos e carinhos, ouvia
atentíssima. Súbito, faz-lhe ela sinal que se cale, inclina a cabeça; é toda
atenção; dá ligeira um pulo, e agarra em um ratinho que travesso saíra do seu
buraco. O instinto havia falado: a mulher era gata.
MORAL DA HISTÓRIA: Por mais que procuremos vencer a nossa índole, sempre ela aí volta inesperada; fechai-lhe a porta, entra pela janela.
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Ano de
publicação: 1852.
Origem:
Brasil (imitadas de Esopo e La Fontaine)
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