A AVIDEZ CASTIGADA
Nos tempos antigos, quando ainda se usava de arco e flecha, um
caçador a quem a fortuna favorecera matou uma corsa, e logo após um gamo. Ambos
estavam estendidos no chão, e ainda não satisfeito, o caçador não tratava de
retirar-se; passa um javali; como privar-se de tão bela presa! Dispara-lhe o
caçador o arco; cai a fera estrebuchando, mas não morta. O caçador prepara nova
flecha com que a acabe; vê ao longe uma perdiz; nada farta a vasta fome de um
fazedor de conquistas! À perdiz pois vai dirigir-se, e descuida-se do semimorto
javali; este ergue-se vingativo, e em último esforço investe para o inimigo, e
com ele sucumbe. A perdiz lho agradece.
Chega entretanto um lobo já com a pele em cima dos ossos, e dentes
de polegada e meia; vendo quatro corpos (e que corpos!) o mísero exulta: Ó
fortuna, quanto te agradeço! exclama; todavia não sejamos desperdiçados; nem
todos os dias são como este. Tenho aqui provisões para quatro semanas. Um corpo
por semana; que fartura! Comecemos amanhã; por hoje, vamos comendo a corda
deste arco; é feita de tripa, e ainda está fresca; como cheira!
Assim falando atira-se ao arco, e tão asselvajadamente, que a
flecha, preparada para a perdiz, desprende-se, e o mata.
MORAL DA
HISTÓRIA: O cobiçoso
sempre ensurdece à voz da prudência. Basta; goza do que tens, diz-lhe esta. —
Sim, hei de fazê-lo amanhã. Esse amanhã não chega, enquanto mal sucedida
empresa não lhe traz a ruína.
---
Ano de
publicação: 1852.
Origem:
Brasil (imitadas de Esopo e La Fontaine)
Nenhum comentário:
Postar um comentário