OS TRÊS COMEDORES
Andavam três irmãos que desejavam se
desenganar qual deles comia mais. Todos aqueles que já uma vez lhes tinham dado
agasalho não os queriam mais aceitar em casa. Indo eles ter à casa de um
lavrador, pediram rancho que lhes foi dado, e depois pediram o que cear. O dono
da casa perguntou o que eles queriam para cear, e responderam:
— Um
boi, dois porcos e três carneiros.
Ficou o lavrador admirado e perguntou:
— E só
para a ceia tudo isto?
Responderam:
— Ora,
mal chega para o buraco de um dente!
O lavrador deu-lhes a ceia pedida, e eles a
devoraram, e pediram mais o caldo que tinha ficado nas panelas. Vendo o
lavrador que estes hóspedes em poucos dias o deixariam sem uma só cabeça de
criação no cercado, foi a toda a pressa à presença do rei e lhe disse:
— Saiba,
rei meu senhor, que tenho na minha casa três mecânicos que disseram que eram
capazes de devorar toda a comida que rei meu senhor dá por dia a seus soldados.
Logo o rei mandou buscá-los com a condição de
se não comessem morressem, e se comessem ganharem uma grande riqueza.
Apresentaram-se os três comilões, e o rei duvidou de tudo, e lhes perguntou se
era verdade o que tinham dito ao lavrador, ao que eles responderam:
— Saberá
Vossa Real Majestade que tal coisa não dissemos; mas se rei nosso senhor quer,
assim seja.
Ordenou o rei que no outro dia se fizessem
comidas para mais mil soldados, e foi a ordem cumprida. Foram os homens para o
quartel acompanhados do rei e conselheiros. Todos se puseram rezando em tenção
dos homens, porque os supunham mortos. Dentro em meia hora acabaram eles com
toda a comida que havia, e disse um para o rei:
— Saiba
rei senhor, que se tem de nos dar a ceia seja em maior porção que esta do
jantar.
O rei ordenou que se matassem dez porcos,
cinco bois e doze carneiros para a ceia. Perguntou então qual deles comia mais:
respondeu o mais moço que ainda não se sabia, mas que desconfiava ser ele. O
rei mandou matar trinta bois, dando dez a cada um, e o mais moço achou pouco e
pediu quinze, por ser o que ele costumava comer quando tinha pouca fome; o rei
lhos deu, e tudo foi devorado. Acabado isto, o rei lhes perguntou o que é que
eles desejavam. Todos responderam:
— Dinheiro
que chegue para comermos toda a nossa vida.
— Seja feita a vossa vontade; aí tendes a
renda de treze cidades, e o gado de todo o meu reino.
Assim falou o rei, ao que eles responderam:
— Foi
nossa felicidade achar quem nos desse de comer; apesar de que tudo ainda é
pouco!
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