domingo, 14 de novembro de 2021

O velho e o tesouro do rei (Conto popular), de Silvio Romero

O VELHO E O TESOURO DO REI

Havia em um lugar um homem velho, muito pobre, tão pobre que não tinha o que comer.

Um dia, roubaram o tesouro do rei e este disse que quem adivinhasse a pessoa que o tinha roubado ganharia uma grande soma de dinheiro. Levantaram um falso ao velho muito pobre e foram dizer ao rei que ele tinha dito que sabia quem havia roubado o tesouro. O rei mandou-o chamar e deu-lhe três dias para adivinhar, sob pena de morte.

Ficou o pobre homem em palácio, com ordem de comer do bom e do melhor. Logo no primeiro dia, apareceu um criado que o serviu de muitos bons manjares e o homem comeu até não poder mais. Quando acabou, virou-se para o criado e disse: “Graças a Deus, que já vi um.” Isto foi referindo-se ao bom passadio, pois na sua vida era aquele o primeiro dia que tinha comido melhor.

O criado, que era um dos cúmplices do roubo, ficou muito espantado e foi dizer aos outros dois companheiros o que tinha ouvido do velho. Então, assentaram que no outro dia iria outro criado servir ao velho para ver o que ele dizia. Com efeito, depois de ter comido e bebido bem no segundo dia, diz o velho para o criado: “Graças a Deus que já vi dois.” O criado muito desconfiado disse aos outros: “Não há dúvida, o homem sabe que fomos nós que roubamos o rei.” Então, o terceiro criado para mais acreditar, foi servir o velho no terceiro dia. Este, depois que comeu bem, repetiu: “Graças a Deus que já vi três.” Aí o criado ajoelhou-se aos pés do pobre homem e declarou que com efeito tinham sido eles que tinham roubado o tesouro do rei, mas que ele guardasse segredo, que eles prometiam de entregar toda a quantia.

O velho, que estava condenado à morte, assim que se viu senhor do segredo, jurou não declarar quem tinha feito o roubo e foi logo entregar o tesouro ao rei. Este ficou muito contente e recompensou o velho com uma grande soma de dinheiro.

Os criados, por sua vez, não fizeram mais roubo, com medo de serem descobertos.


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Ano de publicação: 1883
Origem: Rio de Janeiro (Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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