Louco de inveja da gaitinha do jabuti, o jacaré resolveu furtá-la. Para isso ficou à espera dele no bebedouro.
— Olá, amigo jacaré — disse o jabuti aparecendo. — Que faz aí?
— Tomando sol.
O jabuti bebeu e pôs-se a tocar a gaitinha.
O jacaré então disse:
— Empreste-me um pouco isso; quero ver se sei tocar.
O jabuti deu-lhe a gaita. Ele, pluf, atirou-se ao rio e lá se foi com ela. O jabuti danou. Passados dias, engoliu uma porção de abelhas duma colmeia e foi para o bebedouro esperar o jacaré. Escondeu-se num monte de folhas secas, apenas com a boca de fora, bem lambuzada de mel. De vez em quando soltava uma abelha: zum!
O jacaré apareceu, e pensando que fosse uma colmeia enfiou o dedo na boca do jabuti. O jabuti, nhoc! ferrou o dedo dele.
— Ai, ai ai! — gritava o jacaré. — Largue meu dedo! E,o jabuti
— Só largarei se me entregar a gaitinha — e apertava o dedo do jacaré. Não aguentando mais, este gritou para o seu filho, lá longe:
Ó Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado!
A gaita do cágado!
Tango-lê-rê...
A gaita do cágado!
Tango-lê-rê...
O rapaz, que era meio surdo, respondia: — O quê? Sua camisa, meu pai? Seu chapéu? E o jacaré, aflito:
Não, Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado!
Tango-lê-rê...
A gaita do cágado!
Tango-lê-rê...
E o Gonçalo:
— O que; meu pai? Suas calças?
O jacaré tornava a repetir a cantilena — e assim uma porção de tempo até que o filho entendeu e veio com a gaitinha. Só então o jabuti largou o dedo do jacaré, que saiu ventando.
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Ano de publicação: 1937.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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