O RATO DO CAMPO E O RATO
DA CIDADE
Certo ratinho da cidade resolveu banquetear
um compadre que morava no mato. E convidou-o para um festim, marcando hora e
lugar.
Veio o rato da roça, e logo de entrada muito
admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram
coisa papa-fina: queijo do reino, presunto, pão de ló, mãe-benta. Tudo isso
dentro de um salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura
dourada.
Puseram-se a comer.
No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor
na porta. Incontinente, o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o
convidado de boca aberta.
Não era nada, e o rato fujão voltou e
prosseguiu o jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos
rumores da casa.
Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova
fugida do ratinho.
O compadre da roça franziu o nariz.
Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto aqui é
muito bom e bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no
sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos
pinotes. Até logo.
E foi-se.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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