Simão, o macaco, e Bichano, o gato, moram
juntos na mesma casa. E pintam o sete. Um furta coisas, remexe gavetas, esconde
tesourinhas, atormenta o papagaio; outro arranha os tapetes, esfiapa as almofadas
e bebe o leite das crianças.
Mas apesar de amigos e sócios, o macaco sabe
agir com tal maromba que é quem sai ganhando sempre.
Foi assim no caso das castanhas.
A cozinheira pusera a assar nas brasas umas
castanhas e fora à horta colher temperos. Vendo a cozinha vazia, os dois
malandros se aproximaram. Disse o macaco:
— Amigo Bichano, você, que tem uma pata
jeitosa, tire as castanhas do fogo.
O gato não se fez insistir e com muita arte
começou a tirar as castanhas.
— Pronto, uma...
— Agora aquela de lá... Isso. Agora aquela
gorducha... Isso. E mais a da esquerda, que estalou...
O gato as tirava, mas quem as comia,
gulosamente, piscando o olho, era o macaco...
De repente, eis que surge a cozinheira,
furiosa, de vara na mão.
— Espere aí diabada!...
Os dois gatunos sumiram-se aos pinotes.
— Boa peça, hein? — disse o macaco lá longe.
O gato suspirou:
— Para você, que comeu as castanhas. Para mim foi péssima, pois arrisquei o pelo e fiquei em jejum, sem saber que gosto tem uma castanha assada.
O bom-bocado não é para quem o faz, é
para quem o como.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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