Um leão muito velho e já caduco andava morre
não morre.
Mas, apegado à vida e sempre esperando, deu
ordem aos animais para que o visitassem e lhe ensinassem remédios.
Assim aconteceu. A bicharada inteira desfilou
diante dele, cada qual com um remédio ou um conselho.
Mas a raposa? Por que não vinha?
— Eu sei — disse um lobo intrigante, inimigo
pessoal da raposa. Ela é uma finória, acha que Vossa Majestade morre logo e é
bobagem andar a perder tempo com cacos de vida.
Enfureceu-se o leão e mandou buscar a raposa
debaixo de vara.
— Então é assim que me trata, ó vilíssimo
animal? Esquece que eu sou o rei da floresta?
— Perdão, Majestade! Se não vim até agora é
que andava em peregrinação pelos oráculos, consultando-os a respeito da doença
que abate o ânimo do meu querido rei. E não perdi a viagem, visto como trago a
única receita capaz de produzir melhoras na real saúde de Vossa Majestade.
— Diga lá o que é — ordenou o leão, já calmo.
— É combater a frialdade que entorpece os
vossos membros com um “capote de lobo.”
— Que é isso?
— Capote de lobo é uma pele ainda quente de
lobo escorchado na horinha. E como está aqui mestre lobo, súdito fiel de Vossa
Majestade, vai ele sentir um prazer imenso em emprestar a pele ao seu real
senhor.
O leio gostou da receita, escorchou o lobo,
embrulhou-se na pele fumegante e ainda por cima lhe comeu a carne.
A raposa, vingada, retirou-se, murmurando:
— Toma! Para intrigante, intrigante e meio...
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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