O jabuti entrou num oco de pau e começou a tocar a sua gaitinha. A caipora, lá longe, ouviu e disse: "Não pode ser outro senão o jabuti. Vou agarrá-lo."
Veio vindo. Parou perto do oco, a escutar.
Li,
ri, li, ri...
Lé,
ré, lé, ré...
— Olá, jabuti!
— Oi! — respondeu o tocador de gaita.
— Saia do buraco, jabuti, para vermos qual de nós dois tem mais força.
O jabuti saiu, enquanto a caipora cortava um cipó.
— Eu puxo uma ponta e você outra — eu em terra e você n'água.
— Pois vamos a isso, caipora — respondeu o jabuti.
O jabuti entrou na água e amarrou a ponta do cipó no rabo dum pirarucu, que é o peixe de rio maior que há. A caipora, lá em terra, puxou o cipó — mas o pirarucu a arrastou para a beira d'água; e como não tinha mais força, foi puxando-a para dentro do rio. O jabuti, que já estava em terra, bem escondidinho no mato, ria-se, ria-se.
Não podendo mais de tão cansada, a caipora gritou:
— Basta! Você venceu.
O jabuti, sempre a rir-se, entrou n'água e foi desatar o cipó do rabo do pirarucu. Em seguida voltou para terra.
— Está cansado, jabuti? — perguntou a caipora.
— Cansado, eu? Nem um tiquinho! — e a caipora viu mesmo que nem suado estava. Não teve remédio senão confessar que o jabuti era mais valente do que ela — e lá se foi muito desapontada.
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Ano de
publicação: 1922.
Pesquisa
e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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