Havia uma disputa entre o cormorão e o êider...
— Antes de mais nada — pediu Narizinho — explique que bichos são esses.
— O cormorão é uma ave marinha que tem um saco debaixo do bico. Uma ave com fama de ser a mais glutona de todas. Por isso os homens de certas zonas utilizam-na para a pesca. Botam-lhe uma argola no pescoço, debaixo do tal saco, de modo que o cormorão pesque o peixe mas não possa engoli-lo. E o êider é um patão marinho dos países frios, famoso pela maciez de sua pluma; muito usada para travesseiros e acolchoados.
Bem. O cormorão e o êider andavam brigando justamente por causa da pluma. Cada qual queria ter o privilégio de produzi-la. Por fim combinaram uma coisa. Ficaria com o privilégio da pluma o que acordasse mais cedo e avisasse ao outro de que o sol estava nascendo.
Disposto a ganhar a partida custasse o que custasse, o cormorão resolveu passar a noite acordado. Já o êider tratou de dormir o mais cedo possível. Sono, porém é sono. Quando chega não há quem aguente, de modo que lá pela madrugada o cormorão estava de não poder mais consigo. Tinha de fazer esforços tremendos para conservar os olhos abertos.
De repente não pôde mais, cochilou — e teve um pesadelo, pondo-se a gritar: "O sol! O sol está nascendo!"
A gritaria acordou o êider, que ficou a rir-se de ver o pobre cormorão naquela luta para resistir ao sono. Por mais que fizesse, o sono o ia vencendo. Afinal sua cabeça pendeu e ele dormiu duma vez.
Justamente nesse instante o sol começou a levantar-se.
— O sol! O sol! Lá vem vindo o sol! Ganhei! — gritou o êider. E teve de sacudir o cormorão para acordá-lo.
Desde então ficou o êider com o privilégio das plumas maciíssimas — tudo porque soube fazer as coisas.
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Ano de publicação: 1937.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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