Vinha um carreiro à frente dos bois,
cantarolando pela estrada sem fim. Estrada de lama.
Em certo ponto o carro atolou.
O pobre homem aguilhoa os bois, dá pancadas,
grita; nada consegue e põe-se a lamentar a sorte.
— Desgraçado que sou! Que fazer agora,
sozinho neste deserto? Se ao menos São Benedito tivesse dó de mim e me
ajudasse...
Um papagaio escondido entre a ‘olhas
condoeu-se dele e, imitando a voz de santo, começou a falar:
— Os céus te ouviram, amigo, e Benedito em
pessoa aqui está para o ajutório que pedes.
O carreiro, num assombro, exclama:
— Obrigado, meu santo! Mas onde estás que não
te vejo?
— Ao teu lado. Não me vês porque sou
invisível. Mas, vamos, faze o que mando. Toma da enxada e cava aqui. Isso.
Agora a mesma coisa do outro lado. Isso. Agora vais cortar uns ramos e estivar
o sulco aberto. Isso. Agora vais aguilhoar os bois.
O carreiro fez tudo como o papagaio mandou e
com grande alegria viu desatolar-se o carro.
— Obrigado, meu santo! — exclamou ele de mãos
postas. Nunca me hei de esquecer do grande socorro prestado, pois que sem ele
eu ficaria aqui toda a vida.
O papagaio achou muita graça na ingenuidade
do homem e papagueou, como despedida, um velho rifão popular:
Ajuda-te, que o céu te ajudará.
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Ano de publicação: 1921.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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