Foi uma vez, havia uma onça que tinha uma
filha; o teiú queria casar com ela, e amigo cágado também. O cágado, sabendo da
pretensão do outro, disse em casa da onça que “o teiú para nada valia, e que
até era o seu cavalo”. O teiú, logo que soube disto, foi ter também à casa da
comadre onça, e asseverou que ia buscar o cágado para ali para dar-lhe muita
pancada à vista de todos, e partiu. O cágado, que estava na sua casa, quando o
avistou de longe, correu para dentro e amarrou um lenço na cabeça, fingindo que
estava doente. O teiú chegou na porta e o convidou para darem um passeio em
casa da amiga onça; o cágado deu muitas desculpas, dizendo que estava doente e
não podia sair de pé naquele dia. O teiú teimou muito: Então disse o cágado:
— Você me leve montado nas suas costas.
— Pois sim, respondeu o teiú; mas há de ser
até longe da porta da amiga onça.
— Pois bem; mas você há de deixar eu botar o
meu caquinho de sela: porque assim em osso é muito feio.
E teiú se maçou muito, e disse:
— Não,
que eu não sou seu cavalo!
— Não é por ser meu cavalo, mas é muito feio.
Afinal o teiú consentiu.
— Agora
— disse o cágado —deixe botar minha brida.
Novo barulho do teiú, e novos pedidos e
desculpas do cágado, até que conseguiu pôr a brida no teiú e munir-se do
mangual, esporas etc. Partiram; quando chegaram em lugar não muito longe de
casa da onça, o teiú pediu ao cágado que descesse e tirasse os arreios, se não
era muito feio para ele ser visto servindo de cavalo. O cágado respondeu que
ele tivesse paciência e caminhasse mais um bocadinho, pois estava muito
incomodado e não podia chegar a pé. Assim foi enganando o teiú até à porta da
casa da onça, onde ele meteu-lhe o mangual e as esporas a valer. Então gritou
para dentro de casa:
— Olá,
eu não disse que teiú era meu cavalo? Venham ver!
Houve muita risada, e o cágado vitorioso
disse à filha da onça:
— Ande,
moça; monte-se na minha garupa e vamos casar.
Assim aconteceu com grande vergonha para o
teiú.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Sergipe (Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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