O URUBU E O SAPO
O urubu e o sapo foram convidados para uma
festa no céu. O urubu, para debicar o sapo, foi à casa dele e lhe disse:
— Então, compadre sapo, já sei que tem de ir
ao céu, e eu quero ir em sua companhia.
— Pois não — disse o sapo — eu hei de ir, contanto que você
leve a sua viola.
— Não tem dúvida, mas você há de levar o seu
pandeiro — respondeu o urubu.
O urubu se retirou, ficando de voltar no dia
marcado para a viagem.
Nesse dia se apresentou em casa do sapo, e
este o recebeu muito bem, mandando-o entrar para ver sua comadre e os
afilhados. E quando o urubu estava entretido com a sapa e os sapinhos, o sapo
velho entrou-lhe na viola, e disse-lhe de longe:
— Eu, como ando um pouco devagar, compadre,
vou indo adiante.
E deixou-se ficar bem quietinho dentro da
viola. O urubu, dali a pedaço, se despediu da comadre e dos afilhados, e
agarrou na viola e largou-se para o céu. Lá chegando, lhe perguntaram logo pelo
sapo, ao que ele respondeu:
— Ora! Nem esse moço vem cá; quando lá
embaixo ele não anda ligeiro, quanto mais voar! Deixou a viola e foi comer, que
já eram horas.
Estando todos reunidos nos comes e bebes,
pulou, sem ser visto, o sapo de dentro da viola, dizendo:
— Eu aqui estou!
Todos se admiraram de ver o sapo naquelas
alturas. Entraram a dançar e brincar. Acabado o samba, foram todos se
retirando, e o sapo, vendo o urubu distraído, entrou-lhe outra vez dentro da
viola. Despediu-se o urubu e largou-se para terra. Chegando a certa altura, o
sapo mexeu-se dentro da viola e o urubu virou-a de boca para baixo, e o sapo
despenhou-se lá de cima, e vinha gritando:
— Arreda, pedra, senão te quebras!...
O urubu:
— Qual! Qual! Compadre sapo bem sabe voar!...
O sapo caiu e ralou-se todo; por isso é que
ele é meio fouveiro.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Pernambuco (Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
(Contos
populares do Brasil – Pernambuco)
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